Livro Perfume de Cristo de Maria Cunha - Ligue tel 0 21 2525 3936 e adquira seu exemplar!!!

Livro Perfume de Cristo de Maria Cunha - Ligue tel 0 21 2525 3936 e adquira seu exemplar!!!
...Quer desistir de ser impaciente, duro e ansioso? Quer se tornar manso, humilde, suave e doce de coração?O doce perfume de Cristo irá aos poucos dissolvendo a dureza na sua alma, para que as doces fragrâncias exalem de você...clique na imagem para ouvir Pie Jesu!

domingo, 12 de setembro de 2010

Um Futuro de Paz

Irmão Roger 2005


Um Futuro de Paz

Esta carta, escrita pelo irmão Roger de Taizé, traduzida em 55 línguas (24 da Ásia), foi publicada aquando do Encontro Europeu de Jovens em Lisboa. Será retomada e meditada durante todo o ano de 2005 nos encontros de jovens que se realizarão em Taizé, semana após semana, ou noutros locais, na Europa ou noutros continentes.

«Deus tem para vós desígnios de paz e não de calamidade; Deus quer dar-vos um futuro e uma esperança.» [1]



Inúmeros são aqueles que aspiram hoje a um futuro de paz, a uma humanidade livre das sombras da violência.



Se há quem, tomado pela inquietação face a um tempo incerto, se quede ainda imobilizado, há também, por todo o mundo, jovens cheios de vigor e de criatividade.



Esses jovens não se deixam arrastar por uma espiral de melancolia. Sabem que Deus não nos criou para sermos passivos e que a vida não está submetida aos acasos da fatalidade. Estão conscientes disto: o que pode paralisar o ser humano é o cepticismo ou o desânimo.



Por isso, procuram, com toda a sua alma, preparar um futuro de paz e não de infelicidade. Mais até do que supõem, eles conseguem já fazer de suas vidas uma luz que ilumina tudo à sua volta.



Alguns deles levam a paz e a confiança aonde existem perturbações e antagonismos. Perseveram mesmo quando as contrariedades e as provações pesam sobre os seus ombros. [2]



Em Taizé, em certas noites de Verão, sob um céu repleto de estrelas, ouvimos os jovens das nossas janelas abertas. Surpreende-nos serem tão numerosos. Vêm para procurar e para rezar. E pensamos: as suas aspirações à paz e à confiança são como estas estrelas, pequenas luzes a iluminar a noite.



Vivemos num período em que muitos se interrogam: o que é a fé? A fé é uma confiança muito simples em Deus, um indispensável impulso de confiança, permanentemente retomado ao longo da vida.



Em cada um de nós, pode haver dúvidas. Elas não têm nada de inquietante. Queremos sobretudo ouvir Cristo murmurar nos nossos corações: «Tens hesitações? Não te inquietes, pois o Espírito Santo permanece em ti.» [3]



Há quem tenha feito esta descoberta surpreendente: o amor de Deus pode também desabrochar num coração marcado pela dúvida. [4]



Uma das primeiras palavras de Cristo no Evangelho é: «Bem aventurados os pobres em espírito!» [5] Sim, feliz daquele que avança para a simplicidade, a do coração e a de uma vida. Um coração simples esforça-se por viver o momento presente, acolhendo cada dia como um hoje de Deus.



Não transparece o espírito de simplicidade na felicidade serena e também na alegria?



Um coração simples não tem a pretensão de compreender sozinho tudo o que diz respeito à fé. Mas pensa: aquilo que não entendo bem, outros o compreendem melhor e esses ajudam-me a prosseguir caminho. [6]



Simplificar a vida permite partilhar com os mais carenciados, de forma a aliviar a dor, onde quer que exista doença, pobreza, fome… [7]



A nossa oração pessoal procurará ser simples também. Julgamos que para rezar são necessárias muitas palavras? [8] Não. Na verdade, bastam poucas palavras, por vezes desajeitadas, para entregar tudo a Deus, tanto os nossos medos como as nossas esperanças.



Abandonando-nos ao Espírito Santo, encontramos o caminho que da inquietação conduz à confiança. [9] E dizemos-lhe:

«Espírito Santo, ajuda-nos

a voltarmo-nos para ti a todo o momento.

Esquecemo-nos tantas vezes que tu habitas em nós,

que rezas em nós, que amas em nós.

A tua presença em nós é confiança

e perdão sempre oferecido.»



Sim, o Espírito Santo acende em nós uma luz. Mesmo que pareça fraca, ela desperta nos nossos corações o desejo de Deus. E o simples desejo de Deus já é oração.



A oração não nos afasta das preocupações do mundo. Pelo contrário, não há nada de mais responsável que a oração: quanto mais vivermos de uma oração muito simples e humilde, mais somos levados a amar e a expressar o amor através da nossa vida.



Onde encontrar a simplicidade indispensável para viver o Evangelho? Uma palavra de Cristo esclarece-nos. Um dia, disse aos seus discípulos: «Deixai as crianças vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» [10]



Quem poderá traduzir adequadamente o que algumas crianças conseguem transmitir através da sua confiança? [11]



Gostaríamos então de pedir a Deus: «Deus que nos amas, faz-nos humildes, dá-nos uma grande simplicidade na nossa oração, nas relações humanas, no acolhimento do outro…»



Jesus Cristo veio à terra não para condenar, mas para abrir aos homens caminhos de comunhão.



Há dois mil anos Cristo permanece presente através do Espírito Santo, [12] e a sua presença misteriosa torna-se concreta numa comunhão visível [13]: ela reúne mulheres, homens, jovens, chamados a avançar juntos sem se separarem uns dos outros. [14]



É verdade que ao longo da história, os cristãos conheceram múltiplos abalos: surgiram separações entre os que, afinal, se referiam ao mesmo Deus de amor.



Restabelecer a comunhão é hoje urgente, não se pode adiar permanentemente até ao fim dos tempos. [15] Será que fazemos tudo para que os cristãos despertem para o espírito de comunhão? [16]



Há cristãos que, sem mais demoras, vivem já em comunhão uns com os outros onde quer que estejam, muito humildemente, de forma muito simples. [17]



Através da sua própria vida, desejam tornar Cristo presente a muitos outros. Sabem que a Igreja não existe para ela própria mas para o mundo, para depositar nele um fermento de paz.



«Comunhão» é um dos mais belos nomes que a Igreja tem: nela, não pode haver severidades recíprocas, mas só transparência, bondade do coração, compaixão… e assim se conseguem abrir as portas da santidade.



No Evangelho, podemos descobrir esta realidade surpreendente: Deus não provoca nem medo nem inquietação, Deus só pode amar-nos.



Pela presença do seu Espírito Santo, Deus vem transfigurar os nossos corações.



E através de uma oração muito simples, podemos pressentir que nunca estamos sós: o Espírito Santo é em nós o amparo de uma comunhão com Deus, não apenas por um instante, mas até à vida que não tem fim.



[1] Estas palavras foram escritas seiscentos anos antes de Cristo: ver Jeremias 29,11 e 31,17.



[2] Neste ano em que dez novos países se juntaram à União Europeia, muitos jovens europeus estão conscientes de que vivem num continente que, tendo sofrido por muito tempo divisões e conflitos, procura a sua unidade e avança no caminho da paz. Ainda há, certamente, tensões, injustiças, por vezes violências, que suscitam dúvidas. É preciso não parar no caminho: a procura da paz está na própria origem da construção da Europa. Mas esta não nos interessaria se tivesse como única finalidade criar um continente mais forte, mais rico, e se a Europa cedesse à tentação de se fechar dentro das suas fronteiras. A Europa torna-se plenamente ela própria quando se abre aos outros continentes, solidária com as nações pobres. A sua construção encontra sentido como patamar ao serviço da paz de toda a família humana. Eis a razão pela qual, se o nosso encontro de fim de ano se chama «Encontro Europeu», gostamos ainda mais de o considerar como uma «peregrinação de confiança através da terra».



[3] Ver João 14,16-18 e 27. Deus existe independentemente da nossa fé ou das nossas dúvidas. Deus não se afasta por causa das nossas dúvidas.



[4] Dostoïevski escreveu um dia nos seus Cadernos de Notas: «Sou um filho da dúvida e da descrença. Que terrível sofrimento me causou e ainda me causa esta sede de acreditar, que é tanto mais forte na minha alma quanto mais existem em mim argumentos contrários… Foi através da fornalha da dúvida que passou o meu ‘hossana’.» E, contudo, Dostoïevski podia continuar: «não há nada de mais belo, de mais profundo, de mais perfeito que Cristo; e não só não há nada como não pode haver.» Quando este homem de Deus deixa pressentir que o incrédulo coexiste nele com o crente, o seu amor apaixonado por Cristo não fica por isso diminuído.



[5] Mateus 5, 3.



[6] Mesmo se a nossa confiança continua frágil, não nos apoiamos apenas na nossa própria fé, mas na confiança de todos aqueles que nos precederam e dos que nos rodeiam.



[7] O Programa alimentar mundial da ONU publicou recentemente um mapa da fome no mundo. Apesar dos progressos conseguidos nestes últimos anos, 840 milhões de pessoas passam fome, das quais 180 milhões são crianças com menos de cinco anos.



[8] Ver Mateus 6,7-8.



[9] Este caminho de abandono a Deus pode ser apoiado por cânticos simples, retomados repetidamente, como este: «Só em Deus descansa em paz a minha alma.» Quando trabalhamos, quando descansamos, estes cânticos permanecem dentro do coração.



[10] Mateus 19,14.



[11] Um rapaz de nove anos, que durante uma semana vinha rezar perto de nós, disse-me um dia: «O meu pai deixou-nos. Nunca o vejo mas continuo a amá-lo e à noite rezo por ele.»



[12] Ver 1 Pedro 3,18; Romanos 1,4 e 1 Timóteo 3,16.



[13] Esta comunhão tem o nome de Igreja. No coração de Deus, a Igreja é una, não pode estar dividida.



[14] Quanto mais nos aproximamos do Evangelho, mais nos aproximamos uns dos outros. E caiem as separações que tanto magoaram.



[15] Cristo pede que nos reconciliemos sem tardar. Não podemos esquecer a sua palavra no Evangelho de S. Mateus: «Se fores apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, vai primeiro reconciliar-te» (5,23). «Vai primeiro» e não: «Deixa isso para mais tarde».



[16] Em Damasco, nesse Médio Oriente que tanto sofre, reside o Patriarca Ortodoxo grego de Antioquia, Inácio IV. Ele exprime-se com palavras impressionantes: «O movimento ecuménico está a regredir. O que resta do acontecimento profético do início e que personalidades como o Papa João XXIII e o Patriarca Atenágoras, entre outros, incarnaram? As nossas divisões tornam Cristo irreconhecível, são contrárias à sua vontade de que sejamos um, ‘a fim de que o mundo acredite’. Precisamos urgentemente de iniciativas proféticas para fazer sair o ecumenismo dos meandros nos quais receio que se esteja a atolar. Precisamos urgentemente de profetas e de santos, a fim de ajudar as nossas Igrejas a converter-se através do perdão recíproco.»



[17] Aquando da sua visita a Taizé a 5 de Outubro de 1986, o Papa João Paulo II sugeriu uma via de comunhão dizendo à nossa comunidade: «Ao quererem ser vós mesmos uma ‘parábola da comunidade’, ajudareis não só todos aqueles que encontrais a serem fieis à sua pertença eclesial, que é o fruto da sua educação e da sua escolha de consciência, mas também a penetrar cada vez mais profundamente no mistério de comunhão que é a Igreja nos desígnios de Deus.»

Fonte: Comunidade Taizé
Paz e bem! Maria.

sábado, 7 de agosto de 2010

CIÊNCIA E FÉ – Parte I


“A fé e a razão são as duas asas com as quais o espírito humano alça vôo para contemplar a verdade” (João Paulo II, Fides et ratio, 1)


“A ciência verdadeira contrariamente a arriscadas afirmações do século passado, quanto mais avança tanto mais descobre Deus, como se Ele estivesse vigiando à espera, por trás de cada porta que a ciência abre...”. (Pio XII, 1951)


Papa Pio XII na encíclica “Humani generis” de 12.08.1950:



“O Magistério da Igreja não proíbe que, em conformidade com o atual estado das ciências e da teologia, seja objeto de pesquisas e de discussões, por parte dos competentes em ambos os campos, a doutrina do evolucionismo, enquanto ela investiga a origem do corpo humano, que proviria de matéria orgânica preexistente (a fé católica nos obriga a professar que as almas são criadas imediatamente por Deus). Isto, porém, deve ser feito de tal maneira que as razões das duas opiniões, isto é, da que é favorável e da que é contrária ao evolucionismo, sejam ponderadas e julgadas com a necessária seriedade, moderação, justa medida e contanto que todos estejam dispostos a se sujeitarem ao juízo da Igreja, à qual Cristo confiou o ofício de interpretar autenticamente a S. Escritura e de defender os dogmas da fé”.

Cientistas ateus: Daniel Dennett, Richard Dawkins, Sam Harris, e outros.

Dr. Francis Collins, Diretor do “Projeto Genoma Humano”, dos EUA. Em 2001, foi responsável pelo mapeamento do DNA humano. É o cientista que mais rastreou genes com vistas ao tratamento de doenças em todo o mundo, autor do livro “The Language of God” (A Linguagem de Deus), conta como deixou de ser “ateu insolente” para se tornar cristão aos 27 anos e narra as dificuldades que enfrentou no meio acadêmico ao revelar sua fé. Ele afirma:

“Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está além do mundo natural”. (Revista Veja, Edição n. 1992 de 24 jan 07)

“Essa perspectiva de Dawkins é cheia de presunção. Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas”.

“Eu acredito na Ressurreição. Também acredito na Virgem Maria e em milagres. A questão dos milagres está relacionada à forma como se acredita em Deus. Se uma pessoa crê e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está pelo menos em parte fora dessa natureza, então é totalmente aceitável que esse Deus seja capaz de intervir no mundo natural”.

A PALAVRA DA IGREJA

Constituição Pastoral Gaudium et Spes : “Se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica e segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. Mais ainda: Aquele que tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos das coisas, ainda que disto não tome consciência, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo que elas sejam o que são.” (GS, 36)

S. Agostinho quem o diz: Sermão, 126,3: "Eleva o olhar racional, usa os olhos como homem, contempla o céu e a terra, os ornamentos do céu, a fecundidade da terra, o voar das aves, o nadar dos peixes, a força das sementes, a su¬cessão das estações. Considera bem os seres criados e busca o seu Criador. Presta atenção no que vês e procura quem não vês. Crê naque¬le que não vês, por causa das realidades que vês. E não julgues que é pelo meu sermão que és assim exortado. Ouve o Apóstolo que diz: “As perfeições invisíveis de Deus tornaram-se visíveis, desde a criação do mundo, pelos seres por ele criados” (Rom 1,20).

Concilio Vaticano I (1870) afirmou o conhecimento natural de Deus, contra a agnosticismo, o fideísmo e o tradicionalismo:

“A mesma santa Mãe Igreja sustenta e ensi¬na que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas, “pois sua realidade invisível tornou-se inteligível desde a criação do mun¬do, através das criaturas"' (Rm 1,20).( Dz 1785 – Dz S 3004)


E contra o racionalismo:

"Todavia, aprouve à sua sabedoria e bonda¬de revelar ao gênero humano, por outra via, sobrenatural, a Si mes¬mo e os eternos desígnios de sua vontade, como diz o Apóstolo: “Outro¬ra, muitas vezes e de muitas modos, Deus falou aos pais pelas Profetas; no período final, em que estamos, Ele nos falou pelo Filho" (Hb 1,1-2). (Dz 1785- DzS 3004)


E o Concílio mostrou a harmonia entre a fé e a razão:

"Na verdade, quando a razão, iluminada pela fé, busca, cuidadosamente, com piedade e prudência, então consegue, com a ajuda de Deus, uma certa inteligência muito frutuosa dos mistérios, seja pela analogia com que conheço pela via natural, seja pela cone¬xão de uns mistérios com outros e com o fim último do homem; contudo, nunca chegará a penetrar neles como verdades que constituem seu ob¬jeto próprio. Pois os mistérios divinos, por sua natureza, ultrapassam tanto a inteligência criada que, mesmo transmitidas pela revelação e aceitos pela fé; continuam, contudo, recobertos pelo véu da fé e como que envol¬tos em certa obscuridade, enquanto nesta vida mortal “peregrinamos para o Senhor; pois caminhamos na fé e não na visão” (2Cor 5,65)". (Dz 1796- DzS 3016)


"Não só a fé e a razão nunca podem entre si discordar, mas elas se auxiliam mutuamente. Eis que a reta razão demonstra os fundamentos da fé e, iluminada com a luz da fé, se dedica à ciência das coisas divinas. Também a fé livra e protege a razão de erros e a instrui com múltiplos conhecimentos. Pelo que, longe de por obstácu¬los ao cultivo das artes e disciplinas humanas, a fé as ajuda e promove de muitas formas. Pois não ignora nem desconsidera (a Igreja) as vanta¬gens que delas dimanam para a vida humana; mais, confessa-as como sendo “de Deus, Senhor das ciências” (IRs 2,3); conduzem a Deus como ajuda da graça, se tratadas convenientemente. A Igreja não proíbe que essas disciplinas, cada qual em sou campo, utilizam os princípios e méto¬dos que lhes são próprias; mas, reconhecendo esta justa liberdade, com cuidado rigoroso procura evitar que nelas se introduzam erros contrários ao ensino divino ou que, ultrapassando suas próprias fronteiras, invadam e perturbem o campo da fé". (Dz 1799- DzS 3019)

“Define-se o racionalismo como consta do Sílabo de Pio IX:

“É a doutrina segundo a qual a razão humana é o árbitro do verdadeiro e do falso, do bem e do mal, sem qualquer consideração a Deus. Ela é lei para si mesma, e, por suas capacidades naturais, basta para prover ao bem dos homens e dos povos”. (Dz 1703 – DzS 2903).

Conforme o Concílio do Vaticano I, o racionalismo absoluto é a doutrina segundo a qual “a razão humana é tão independente que Deus não lhe pode exigir a fé” (Dz 1610 – DzS 3031), donde, não haver lugar para a revelação divina. O princípio do racionalismo é o da absoluta autonomia da razão. Como supremo árbitro, a razão deve julgar o que é verdade, o que é falso ou simplesmente simbólico na Escritura Sagrada” (idib. P. 201).


Academias Pontifícias do Vaticano:

Pontifícia Academia das Ciências

Pontifícia Academia das Ciências Sociais

Pontifícia Academia Para a Vida

- 29 Prêmios Nobel



Papa João Paulo II, em 24 de outubro de 2004, nomeou dois cientistas, pioneiros da física, para membros da Academia Pontifícia das Ciências, do Vaticano:

1 – Dr. William D. Phillips, professor de Física na Universidade de Maryland, líder do Grupo de esfriamento com laser da Divisão de Física Atômica do “National Institute of Standards and Technology” (NIST) de Gaithersburg (Estados Unidos). Em 1997 recebeu o Prêmio Nobel em Física.



2 - Professor de origem indiana Dr. Veerabhadran (Ram) Ramanatham, nascido em Chennai (Índia), é professor de ciências da atmosfera na Universidade da Califórnia (San Diego) e diretor do Centro para as Ciências da Atmosfera da “Scripps Institution of Oceanography”, La Jolla (Estados Unidos).

Encíclica Fé e razão – Papa João Paulo II

Cientificismo - só valoriza as teses das ciências positivas e nenospreza o conhecimento religioso e o saber ético: estes seriam do domínio da imaginação ou do irracional. A conseqüência desta posição é que tudo quanto se pode realizar no plano da tecnologia é admissível no plano da Moral (Cf. nº 88).

Pragmatismo - que tudo julga em função da sua utilidade ou de suas aplicações práticas excluindo o recurso a reflexões abstratas e avaliações éticas. Estas concepções tem tido muita voga na política: há certas formas de democracia que julgam a viabilidade ética de determinado comportamento com base apenas no voto da maioria parlamentar: a vida humana é valorizada tão somente pela sua capacidade de produzir e servir; donde se seguem a legalização do aborto e da eutanásia (Cf. n. 89).


Niilismo - que é a negação de qualquer verdade objetiva e a destruição da dignidade humana; a pessoa é assim levada ao desespero da solidão (Cf. n. 90).


"Pós-modernidade” com que alguns pensadores designam a nossa época. Para alguns filósofos, quer dizer que "o tempo das certezas está irremediavelmente ultrapassado, de modo que o homem deveria viver num mundo de total ausência de sentido, onde tudo é provisório e efêmero; assim, estariam extintas até mesmo as certezas da fé (Cf. n0- 91).


Diz o Papa:

“lludindo-o, vários sistemas filosóficos convenceram-no de que ele é senhor absoluto de si mesmo, que pode decidir autonomamente sobre o seu destino e a seu futuro, confiando apenas em si próprio e nas suas forças. Ora esta nunca poderá ser a grandeza do homem. Para a sua realização, será determinante apenas a opção de viver na verdade, construindo a própria casa à sombra da Sabedoria e nela habitando. Só neste horizonte da verdade poderá compreender, com toda a clareza, a sua liberdade e a sua vocação ao amor e ao conhecimento de Deus como suprema realização de si mesma" (nº 107).

Cientistas e a Fé

Dr. Adolf Butenandt, prêmio Nobel em Bioquímica:

“Com os átomos de um bilhão de estrelas, o acaso cego não conseguiria produzir sequer uma proteína útil para o ser vivo”.(A Criação não é um mito, Ed. Paulinas, SP, 1972)

Isaac Newton (1642-1727), fundador da física clássica e descobridor da lei da gravidade:

“A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto fica sendo a minha última e mais elevada descoberta”.


William Herschel (1738-1822), astrônomo alemão, descobridor do planeta Urano:

“Quanto mais o campo das ciências naturais se dilata, tanto mais numerosas e irrefutáveis se tornam as provas da eterna existência de uma Sabedoria criadora e todo-poderosa”.

Alessandro Volta (1745-1827), físico italiano, descobridor da pilha elétrica:

“Submeti a um estudo profundo as verdades fundamentais da fé, e [...] deste modo encontrei eloqüentes testemunhos que tornam a religião acreditável a quem use apenas a sua razão”.


André Marie Ampère (1755-1836), físico e matemático francês, católico, descobridor da lei fundamental da eletrodinâmica, cujo nome deu origem ao termo amperagem:

“A mais persuasiva demonstração da existência de Deus depreende-se da evidente harmonia daqueles meios que asseguram a ordem do universo e pelos quais os seres vivos encontram no seu organismo tudo aquilo de que precisam para a sua subsistência, a sua reprodução e o desenvolvimento das suas virtualidades físicas e espirituais”.


H. C. Oersted (1777-1851), físico dinamarquês, descobridor de uma das leis do Electromagnetismo:

“Cada análise profunda da Natureza conduz ao conhecimento de Deus”.

Jons Jacob Berzelius (1779-1848), químico sueco, descobridor de inúmeros elementos químicos:

“Tudo o que se relaciona com a natureza orgânica revela uma sábia finalidade e apresenta-se como produto de uma Inteligência Superior [...]. O homem [...] é levado a considerar as suas capacidades de pensar e calcular como imagem daquele Ser a quem ele deve sua existência”.


Karl Friedrich Gauss (1777-1855), alemão, considerado por muitos como o maior matemático de todos os tempos, também astrônomo e físico:

“Quando tocar a nossa última hora, teremos a indizível alegria de ver Aquele que em nosso trabalho apenas pudemos pressentir”.

Agustín-Louis Cauchy (1789-1857), matemático francês, que desenvolveu o cálculo infinitesimal:

“Sou um cristão, isto é na creio na divindade de Cristo como Tycho Brahe, Copérnico, Descartes, Newton, Leibniz, Pascal [...], como todos os grandes astrônomos e matemáticos da Antiguidade”.

James Prescott Joule (1818-1889), físico britânico, estudioso do calor, do eletromagnetismo e descobridor da lei que leva o seu nome:

“Nós topamos com uma grande variedade de fenômenos que [...] em linguagem inequívoca falam da sabedoria e da bendita mão do Grande Mestre das obras”.

Ernest Werner Von Siemens (1816-1892), engenheiro alemão, inventor da eletrotécnica e que trabalhou muito no ramo das telecomunicações:

“Quanto mais fundo penetramos na harmoniosa dinâmica da natureza, tanto mais nos sentimos inspirados a uma atitude de modéstia e humildade; [...] e tanto mais se eleva a nossa admiração pela infinita Sabedoria, que penetra todas as criaturas”.

William Thompson Kelvin (1824-1907), físico britânico, pai da termodinâmica e descobridor de muitas outras leis da natureza:

“Estamos cercados de assombrosos testemunhos de inteligência e benévolo planejamento; eles nos mostram através de toda a natureza a obra de uma vontade livre e ensinam-nos que todos os seres vivos são dependentes de um eterno Criador soberano.”


P. Sabatier (1854-1941), zoólogo alemão, Prêmio Nobel:

“Querer estabelecer contradições entre as Ciências Naturais e a religião, demonstra que não se conhece a fundo ou uma ou outra dessas disciplinas”.


Carl Gustav Jung (1875-1961), suíço, um dos fundadores da psicanálise:

“Entre todos os meus pacientes na segunda metade da vida, isto é, tendo mais de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão da sua atitude religiosa. Todos, em última instância, estavam doentes por terem perdido aquilo que uma religião viva sempre deu aos seus adeptos, e nenhum se curou realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria”.

Werner Von Braun (1912-1977), físico alemão radicado nos Estados Unidos e naturalizado norte-americano, especialista em foguetes e principal diretor técnico dos programas da NASA (Explorer, Saturno e Apolo), que culminaram com a chegada do homem à lua:

“Não se pode de maneira nenhuma justificar a opinião, de vez em quando formulada, de que na época das viagens espaciais temos conhecimentos da natureza tais que já não precisamos crer em Deus. Somente uma renovada fé em Deus pode provocar a mudança que salve da catástrofe o nosso mundo. Ciência e religião são, pois, irmãs, e não pólos antitéticos”. “Quanto mais compreendemos a complexidade da estrutura atômica, a natureza da vida ou o caminho das galáxias, tanto mais encontramos razões novas para nos assombrarmos diante dos esplendores da criação divina”.

Albert Einstein (1879-1955), físico judeu alemão, criador da teoria da relatividade, Prêmio Nobel 1921:

“Todo profundo pesquisador da natureza deve conceber uma espécie de sentimento religioso, pois ele não pode admitir que ele seja o primeiro a perceber os extraordinariamente belos conjuntos de seres que ele contempla. No universo, incompreensível como é, manifeste-se uma inteligência superior e ilimitada. A opinião corrente de que eu sou ateu, baseia-se sobre grande equívoco. Quem a quisesse depreender de minhas teorias científicas, não teria compreendido o meu pensamento”.

Max Plank (1858-1947), físico, alemão, criador da teoria dos quanta, Prêmio Nobel 1928:

“Para onde quer que se dilate o nosso olhar, em parte alguma vemos contradição entre Ciências Naturais e Religião; antes, encontramos plena convergência nos pontos decisivos. Ciências Naturais e Religião não se excluem mutuamente, como hoje em dia muitos pensam e receiam, mas completam-se e apelam uma para a outra. Para o crente, Deus está no começo; para o físico, Deus está no ponto de chegada de toda a sua reflexão. (Gott steht für den Gläubigen em Anfang, fur den Phystker am Ende alles Denkens)”.


Guglielmo Marconi (1874-1937), físico italiano, inventor da telegrafia sem fio, Prêmio Nobel 1909:

“Declaro com ufania que sou homem de fé. Creio no poder da oração. Creio nisto não só como fiel cristão, mas também como cientista”.

Thomas Alva Edison (1847-1931), inventor no campo da Física, com mais de 2.000 patentes:

“Tenho... enorme respeito e a mais elevada admiração por todos os engenheiros, especialmente pelo maior deles: Deus”.

Charles Darwin, famoso autor da teoria da evolução:

“Nunca neguei a existência de Deus. Creio que a teoria da evolução é plenamente conciliável com a fé em Deus. A impossibilidade de provar e compreender que o grandioso e imenso universo, assim como o homem, tiveram origem por acaso parece-me ser o argumento principal para a existência de Deus”.

Voltaire, racionalista e inimigo sagaz da fé católica, que se converteu no final da vida, foi levado a dizer:

“O mundo me perturba e não posso imaginar que este relógio funcione e não tenha tido relojoeiro”.

Eddington dizia que:

“Nenhum inventor do ateísmo foi pesquisador da natureza”.

Paz e bem!
Maria Cunha

Fonte: http://www.cleofas.com.br/



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Reforma Protestante!

A Reforma Protestante (I)


A Reforma protestante, embora amplamente preparada, surgiu na história quase de repente; parecia tratar/se, a princípio, de uma questão pessoal e puramente religiosa do frade Martinho Lutero, mas, dado o clima em que ressoou, tomou vastas proporções eclesiásticas e políticas, que ninguém imaginava. Infelizmente a obra de Lutero não se tornou aquilo que, havia muito, o povo e os príncipes cristãos esperavam a renovação da Igreja pela eliminação dos abusos, sem alteração da fé e da constituição da Igreja; veio a ser uma revolução eclesiástica e um cisma. Estudemos os fatos.



Lutero: evolução das idéias



Martinho Lutero nasceu aos 10/11/1483 em Eisleben (Sachsen). Teve infância dura, sujeita, em casa e na escola, a disciplina severa. A partir de 1501, na Universidade de Erfurt estudou a filosofia nominalista de occam, com tendência antimetafísica e relativista; tal sistema dissolvia a harmonia entre a ciência e a fé, pois tinha as verdades da fé como irracionais ou impenetráveis à razão; a Moral se fundaria unicamente na livre vontade de Deus.



Certa vez, a caminho da Universidade (02/07/1505), foi quase fulminado por um raio; em conseqüência, fez o voto de entrar no convento (Hilf, St. Anna, ich will ein Mönch werden! Ajuda, St

#8217; Ana, quero tornar/me um monge!). Esta decisão era fruto do temperamento escrupuloso e pessimista de Lutero, que receava o juízo de, Deus sobre os seus pecados (Lutero muito se preocupava com a sua fraqueza e os seus pecados, que o deixavam inquieto).



Em julho de 1505, a revelia do pai e dos amigos, Lutero entrou no convento dos Agostinianos de Erfurt. Em 1507 foi ordenado presbítero, Em 1510 ou 1511 passou quatro semanas em Roma, onde conheceu a vida da Cúria e a exuberância das devoções populares. Isto tudo, porém: no momento não o impressionou muito nem abalou a sua fidelidade à lgreja. Foi nomeado professor de S. Escritura em Wittenberg. Vivia, porém, inquieto ao pensar na sua fragilidade moral e nos insondáveis juízos de Deus; jejuava, praticava vigílias de oração, mas sem conseguir paz. o contato com as epístolas de S. Paulo (especialmente aos Romanos e aos Gálatas) foi/lhe oferecendo uma solução: viu que não se devia importar tanto com aquilo que fazia ou deixava de fazer, e precisava de ficar firme na fé confiança em Jesus Salvador; afinal, dizia ele, é a fé, e não as obras boas, que salvam o homem. Este foi totalmente corrompido pelo pecado original e aí pode senão pecar; o livre arbítrio está vendido ao pecado; não se pode apelar para ele. De resto, a concupiscência desregrada, que é o próprio pecado, é inextinguível no homem. Só Ihe resta confiar (ter fé) nos méritos de Cristo, porque ninguém tem mérito próprio. Quando Deus declara o homem justo ou reto, não Ihe está apagando os pecados, mas apenas resolve não os imputar, cobrindo/os com o manto da justiça ou da santidade de Cristo. Lutero baseava/se especialmente em Rm 1,17; GI 3,12.22...textos lidos é luz das obras de S.Agostinho, que se revelara pessimista em relação a natureza humana; cf. capítulo. 13



Tal doutrina passou a ser o ´´Evangelho´´ de Lutero. Implicava autêntica revolução dentro do Cristianismo. Lutero havia de lhe associar outras teses, a saber: a rejeição dos sacramentos, do sacerdócio ministerial, do sacrifício da Missa, da hierarquia, enfim... de tudo aquilo que fazia a vida da lgreja Católica.



As indulgências



Lutero era, pois, professor de S. Escritura em Wittenberg, quando surgiu a questão das indulgências.



Antes de continuar a história do frade agostiniano, compete/nos explicar o que sejam indulgências. Observemos o seguinte:



1) Todo pecado acarreta consigo a necessidade da expiação depois de ter sido perdoado. Com outras palavras:



O pecado não é somente a transgressão de uma lei, mas é a violação de uma ordem de coisas estabelecida pelo Criador; é sempre um dano infligido tanto ao indivíduo que peca, como à comunidade dos homens. Por conseguinte, para que haja plena remissão do pecado, não somente é necessário que o pecador obtenha de Deus o perdão, mas requer/se também que repare a ordem violada. Assim, por analogia, quem rouba um relógio violando a ordem da propriedade, não precisa apenas de pedir perdão a quem foi prejudicado, mas deve também restaurar a ordem ou devolver o relógio ao respectivo proprietário A reparação da ordem há de ser sempre dolorosa, pois significa mortificação do velho homem pecador ou das concupiscências desregradas que o pecado só faz aguçar.



A própria S. Escritura atesta tal doutrina. Por exemplo, Davi recebeu o perdão dos pecados de homicídio e adultério mas teve que sofrer a pena de perder o filho do adultério (cf. 2Sm 12,13 s). Moisés e Aarão foram privados de entrar na Terra prometida, embora a sua culpa Ihes tenha sido perdoada (cf. Nm 20,12; 27,12/14; Dt 34,4s). Ver também Tb 4,11s; Dn 4,24; JI 2,12s.



2) Consciente disto, a lgreja antiga ministrava a reconciliação dos pecadores em duas fases. Sim, o pecador confessava seus pecados a um ministro de Deus. Este não o absolvia imediatamente (cf. Jo 20,20/22), mas impunha/lhe uma satisfação adequada, correspondente é gravidade das suas faltas; este exercício de penitência devia proporcionar ao cristão o domínio sobre si, a vitória sobre as paixões e a liberdade interior. A satisfação assim imposta, pode ser realmente medicinal, costumava ser penosa: assim, por exemplo, uma quaresma de jejum, em que o penitente se vestia de peles de animais (para praticar tal penitência, o cristão tinha que excitar dentro de si um vivo amor a Deus e um profundo horror do pecado). Somente depois de terminar a respectiva satisfação, era o pecador absolvido. Julgava/se então que estava isento não apenas da culpa, mas também de toda expiação devida aos seus pecados; estaria livre não só da culpa do pecado, mas também das raízes e das conseqüências deste.



Esta prática penitencial conservou/se até fins do século VI. Tornou/se, porém, insustentável, pois exigia especiais condições de saúde e acarretava conseqüências perigosas para todo o resto da vida de quem a ela se submetera. Eis por que aos poucos foi sendo modificada.



3) No século IX a Igreja julgou oportuno substituir certas obras penitenciais muito rigorosas por outras mais brandas; a estas a Igreja associava os méritos satisfatórios de Cristo, num gesto de indulgência. Tais obras foram chamadas ´´obras indulgenciadas´´, porque enriquecidas de indulgências: podiam ser assim indulgenciadas orações, esmolas, peregrinações...



Está claro, porém, que estas obras mais brandas enriquecidas pelos méritos de Cristo só tinham valor satisfatório se fossem praticadas com as disposições interiores que animavam os penitentes da lgreja antiga a prestar uma quarentena de jejum ou outras obras rigorosas. Não bastava, pois, rezar uma oração ou dar uma esmola para se libertar das conseqüências do pecado, mas era preciso fazê/Io com o amor a Deus e o repúdio ao pecado que encorajavam os penitentes da Igreja Antiga. Vê/se, pois, que era e é muito difícil ganhar indulgências.



Mais: ninguém podia (ou pode) ganhar indulgência sem que tivesse (ou tenha) anteriormente confessado as suas faltas e houvesse (ou haja) recebido o perdão das mesmas. A instituição das indulgências não tinha em vista apagar os pecados, mas contribuir (mediante a provocação de um ato de grande amor) para eliminar as conseqüências ou os resquícios do pecado.



Por conseguinte, a Igreja nunca vendeu o perdão dos pecados nem vendeu indulgências. o perdão dos pecados sempre foi pré/requisito para as indulgências. Quando a Igreja indulgenciava a prática de esmolas, não tencionava dizer que o dinheiro produz efeitos mágicos, mas queria apenas estimular a caridade ou as disposições íntimas do cristão para que conseguisse libertar/se das escórias remanescentes do pecado. Não há dúvida, porém, de que pregadores populares e muitos fiéis cristãos dos séculos XV e XVI usaram de linguagem inadequada ou errônea ao falar de indulgências. Foi o que deu ocasião aos protestos de Lutero e dos reformadores.



4) As indulgências podem ser adquiridas também em favor das almas do purgatório. Estas precisam de se libertar das escórias dos pecados com as quais deixaram a vida presente; para tanto, necessitam da grata de Deus, que os fiéis viventes neste mundo podem solicitar mediante a prática de boas obras indulgenciadas. Todos os fiéis que foram enxertados em Cristo pelo Batismo e vivem em plena comunhão com a Igreja, constituem uma grande família, solidária e unida em si pela caridade. Em conseqüência, os méritos de uns redundam em benefício de outros; os atos satisfatórios que as almas retas prestam a Deus, podem auxiliar a outros cristãos, que precisem de expiar, seja aqui na terra, seja no purgatório. Em outros termos: pelas nossas preces, pelas nossas boas obras e pelos nossos atos de mortificação, unidos aos méritos de Cristo, podemos ser úteis não só a nós mesmos, mas também aos nossos irmãos, que devem prestar satisfação a Deus por seus pecados. esta solidariedade que se chama ´´Comunhão dos Santos´´. Esta expressão designa a comunhão de bens espirituais ou de coisas santas segundo a qual vivem os filhos da Igreja. ´´Uma alma que se eleva (que se enriquece de Deus), eleva o mundo inteiro´´ (Elizabeth Leseur).



Eis como se deve entender a prática das indulgências, até hoje recomendada pela S. Igreja, mas freqüentemente mal entendida.



Lutero e as indulgências



Voltemos agora à história de Lutero.



A fim de custear a construção da nova basílica de S. Pedro em Roma, Júlio II em 1507 e Leão X em 1514 promulgaram indulgência plenária para qualquer cristão que recebesse os sacramentos e desse esmola. Foi nomeado Comissário da indulgência para grande parte da Alemanha em 1515 o jovem príncipe Alberto de Brandenburgo, desde 1513 arcebispo de Magdeburgo e administrador do bispado de Halberstadt, desde 1514 também arcebispo de Mogúncia. Alberto era homem frívolo e mundano; contraíra uma dívida de 29.000 florins com os banqueiros Fugger de Augsburgo a fim de pagar as taxas de vidas à Santa Sé por estar acumulando três bispados; então, de acordo com os representantes papais, resolveu que metade das esmolas indulgenciadas ficaria para a construção da basílica de São Pedro, enquanto a outra metade serviria para saldar a dívida junto aos banqueiros.



Ora na Alemanha já reinava prevenção contra as indulgências por causa de abusos de oficiais eclesiásticos. O pregador de indulgências nomeado por Alberto, o dominicano João Tetzel, incorria também ele nesses abusos: afirmava que, para adquirir a indulgência em favor dos defuntos, bastava a esmola sem o estado de graça do doador (o que era errôneo). Quando, certa vez, Tetzel perto de Wittenberg pregava, Lutero resolveu insurgir/se contra o pregador: na tarde de 31/10/1517, à porta da igreja de Wittenberg afixou, conforme o costume das disputas acadêmicas, uma lista de 95 teses em latim sobre as indulgências e pontos conexos (a culpa, a pena, a penitência, o purgatório, o primado papal). A intenção de Lutero era apenas a de combater abusos e por em clara luz a doutrina ortodoxa; na realidade, porém, as suas teses significavam a rejeição não somente das indulgências, mas também do ministério da lgreja em prol da salvação dos homens. Entre outras coisas, o frade agostiniano afirmava:



1) o Papa só pode perdoar penas que ele mesmo, conforme o seu juízo ou conforme as leis eclesiásticas, tenha imposto (tese 5);



2) as indulgências não podem ser aplicadas às almas no purgatório (tese 8 a 29);



3) a verdadeira contrição, sem decreto de indulgências, confere ao cristão plena remissão do pecado e da culpa (teses 36 e 37);



4) à Igreja hierárquica, na remissão das culpas, toca apenas uma função declaratória, isto é, a Igreja apenas pode reconhecer que o penitente já foi diretamente perdoado por Deus no seu íntimo em virtude do seu arrependimento; Ela não transmite o perdão de Deus (teses 6 e 7);



5) Lutero negava o tesouro de graças de Cristo e dos Santos (o assim chamado ´´tesouro da lgreja´´), que é o pressuposto da doutrina das indulgências (tese 58).



Nesta lista de Wittenberg, não aparece a tese da fé fiducial (fé/confiança, mediante a qual o cristão seria salvo), mas ocorre um conceito equivalente ao da penitência meramente subjetiva; a contrição pessoal substituiria a Penitência sacramental; a mediação de Igreja como Sacramento primordial era posta de lado, em benefício de uma atitude meramente subjetiva do cristão diante de Deus. A Reforma protestante se achava toda em gérmen na atitude e nas teses de Lutero.



39: A Reforma Protestante (II)



Lutero de 1517 a 1546



As teses de Lutero espalharam/se rapidamente pela Alemanha e o estrangeiro, chegando até Roma. A Santa Sé mandou o Cardeal Caetano, bom teólogo da época, a Augsburgo para ouvir Lutero (12/14/10/1518); não conseguiu, porém, demovê/Io de suas posições doutrinárias.



O brado de revolta de Lutero encontrou ressonância fácil entre os príncipes da Alemanha, que tinham antigos ressentimentos contra a Santa Sé por questões políticas. Também a pequena nobreza apoiava Lutero, porque da revolução religiosa esperava uma revolução social que satisfizesse aos seus anseios. Entre os protetores de Lutero, começou a destacar/se o príncipe Frederico o Sábio, da Saxônia.



Em 1519 deu/se em Leipzig famosa disputação pública, em que Lutero expôs mais claramente sua doutrina: só é verdade religioso aquilo que se pode provar pela S. Escritura (princípio básico do protestantismo); atacou outrossim o primado do Papa. / os ânimos se acendiam cada vez mais mediante panfletos com caricaturas e sátiras.



Em 1520 (15/06), o Papa Leão X publicou a Bula Exsurge, que condenava 41 sentenças de Lutero, ordenava a combustão dos seus escritos e ameaçava Lutero de excomunhão, caso não se submetesse dentro de sessenta dias. Em dezembro desse mesmo ano o frade queimou a Bula e um livro de Direito Eclesiástico em praça pública. Em resposta, o Papa excomungou formalmente Lutero aos 03/01/1521. Este gesto do Papa exigia tomada de posição clara da parte dos seguidores do reformador.



Lutero interpelava calorosamente os seus compatriotas alemães, principalmente mediante três obras que se tornaram clássicas: o Manifesto à Nobreza Alemã, no qual exortava os príncipes a assumir a reforma da Cristandade, constituindo uma Igreja alemã independente; o Cativeiro da Babilônia, que considerava os sacramentos, regulamentados pela Igreja, como um cativeiro; só ficariam o Batismo e a Ceia, operando pela fé do sujeito; Da Liberdade Cristã, que concebe a lgreja como uma comunidade invisível, da qual só fazem parte os que vivem da verdadeira fé.



Em 1521 deu/se a Dieta59 de Worms, à qual Lutero compareceu na presença do Imperador Carlos V; recusou retratar/se; pelo que foi condenado à morte. Todavia Frederico o Sábio escondeu o frade rebelde no Castelo de Wartburg, onde ficou dez meses (maio 1521 / março 1522) sob o pseudônimo de ´´Cavaleiro Jorge´´; começou então a tradução da Bíblia para o alemão a partir dos originais, obra de linguagem magistral, traço de união entre os partidários do reformador; só foi completada em 1534. No castelo de Wartburg Lutero sofreu crises nervosas assaz violentas, que ele considerava como assaltos diabólicos.



Enquanto Lutero se conservava oculto em Wartburg, a agitação crescia em Wittenberg; os clérigos casavam/se; a Missa era substituída pelo rito da Ceia do Senhor, em que se recebiam pão e vinho sem confissão previa nem jejum eucarístico; as imagens dos santos eram removidas...Mais: apareceu a corrente dos anabatistas, que interpretavam ousadamente o pensamento de Lutero, negando o batismo às crianças (já que o Sacramento só é eficaz pela fé de quem o recebe) e batizando de novo os adultos; preconizavam uma ´´Igreja de Santos´´, cujos membros estariam em contato direto com o Espírito Santo. Posto a par da confusão, Lutero deixou seu esconderijo e voltou a Wittenberg, indo morar no seu antigo convento, já esvaziado de frades e doado por Frederico o Sábio a Lutero como residência; ali o reformador em 1525 casou/se com Catarina de Bora, monja cisterciense apóstata, e teve seus filhos.



Lutero conseguiu, com o apoio do braço secular, restabelecer a ordem em Wittenberg. Mas teve que enfrentar a revolta dos camponeses (1524/25), que, esmagados por tributos, valiam/se da proclamação de liberdade feita por Lutero para reivindicar sua liberdade frente aos senhores civis e eclesiásticos. Thomas Münzer, chefe dos anabatistas, incitava os camponeses a revolta. Lutero hesitou diante dessa insurreição, mas acabou optando pela sufocação violenta dos revoltosos; Thomas Mbnzer foi decapitado. Esta atitude fez que Lutero perdesse parte da sua popularidade; a sua nova ´´Igreja´´ não seria de povo e comunidade, mas de príncipes e regiões. Os anabatistas mereceriam a adesão das classes mais humildes (são os Batistas de nossos tempos).



A situação religiosa e política fervilhava cada vez mais. Muitas vozes de reis, príncipes e nobres se levantaram, ora para defender, ora para combater Lutero. Muitos apregoaram a convocação de um Concílio Ecumênico.



Em 1529 realizou/se uma Dieta em Espira (Alemanha): determinou que não se fariam mudanças religiosas nos territórios do país, de modo que ficaria estabilizada a onda de reforma luterana até se reunir um Concílio Ecumênico. Esta resolução favorecia, de certo modo, os católicos, pois os avanços do luteranismo eram contínuos. Em conseqüência, seis príncipes e quatorze cidades imperais, aos 19/04/1529, protestaram contra a decisão. Este gesto lhes valeu o nome de ´´protestantes´´ em lugar da expressão viriboni (ou crentes) que eles davam a si mesmos.



Os últimos anos de vida de Lutero foram angustiosos para o reformador por diversos motivos: os aborrecimentos e as decepções se somavam aos achaques corporais; via que se alastravam a indisciplina e a procura de interesses particulares nos territórios reformados; os príncipes dominavam as questões religiosas. Lutero depositava suas esperanpas num próximo fim de mundo. Em 1543 escreveu ansioso: ´´Vinde, Senhor Jesus, vinde os males ultrapassaram a medida. é preciso que tudo estoure. Amém´´. / Finalmente morreu aos 18/02/1546 em sua cidade natal de Eisleben.



Após ter jantado pela última vez, diz uma narração duvidosa, Lutero com giz escreveu o verso que outrora compusera em Schmalkalde durante grave enfermidade: ´´Pestis eram vivus; moriens ero mors tua, Papa! / Papa, minha vida era a tua peste; minha morte será a tua morte!´´. Em nossos dias a animosidade que Lutero nutriu para com o Papado e a Igreja, muito se atenuou; têm/se realizado frutuosas conversações teológicas entre católicos e luteranos, que vêm mais e mais aproximando os irmãos entre si.



Avaliação da figura de Lutero



Martinho Lutero é certamente um dos personagens que mais influiram no curso da história moderna não só da Igreja, mas do mundo. Canalizou idéias que vinham do fim da ldade Média: o ocamismo, que dava prioridade à vontade sobre o intelecto, originando um certo antiintelectualismo; o nominalismo, segundo o qual não existem conceitos gerais ou noções universais, mas apenas palavras, que designam realidades individuais o subjetivismo, que foi tomando o lugar do objetivismo (ou dos valores metafísicos). Lutero foi certamente um homem profundamente religioso, dotado de firme confiança em Deus, diligente no trabalho e desinteressado de si. A estes dons, porém, associava/se um temperamento apaixonado, que podia chegar as raias do doentio; uma convicção cega de que tinha recebido de Deus a missão de um profeta; uma propensão à discussão, ao exagero trágico e ao cinismo. Deixava/se guiar pelas emoções mais do que pela razão, principalmente em matéria teológica / o que decorre do princípio luterano de que a fé é alheia à razão. Ele mesmo dizia que ´´nenhuma obra boa se faz por sabedoria, mas que tudo se realiza como que por uma espécie de vertigem ou torpor´´.



Infelizmente as boas intenções de Lutero não levaram ao objetivo almejado, pois dividiram os cristãos e geraram um princípio de divisão até hoje fecundo; o protestantismo se esfacela em novas e novas comunidades, segundo o princípio subjetivo estabelecido por Lutero: cada crente é livre para interpretar a Bíblia como lhe pareça, sem dar atenção a instâncias extrínsecas.



Um dos traços que muito exaltam Lutero aos olhos dos protestantes alemães, é a sua posição na história nacional alemã. Tem/se dito que Lutero era alemão até a medula dos ossos; o seu ódio antipapal correspondia ao ódio anti/romano e ao nacionalismo alemão da época: era alemão também pelo uso magistral da língua pátria, da qual a tradução luterana da Bíblia é um monumento.



As idéias e o movimento de Lutero tiveram seus ecos fora da Alemanha. Vários reformadores surgiram, partindo todos do mesmo princípio: a única fonte de fé é a Bíblia, lida independentemente do magistério da Igreja. Entre esses chefes destacam/se: Ulrico Zwingli (1484/1531), que pregou em Zürich (Suiça) e cujos seguidores sem demora se agregaram ao Calvinismo. Outro reformador notável foi João Calvino, que vai apresentado a seguir.



O Calvinismo



Em 1532 apareceu em Genebra (Suíça Francesa) o pregador francês Guilherme Farel, que pregava idéias semelhantes às de Lutero e deixou a população local em grande agitação. Preparava assim o caminho para outro francês: João Calvino (1509/64).



Calvino estudou Direito na França antes de se domiciliar em Genebra. Era sistemático, organizador, mais consciente do alcance de sua obra do que Lutero. Possuia enorme capacidade de trabalho e sabia ser coerente até o extremo, não se deixando abater por dificuldade alguma; isto o tornou insensível e duro em relação aos seus semelhantes.



Em 1527/8, Calvino, educado na religião católica, passou pela conversão às novas idéias; tendo/as professado, caiu sob a perseguição antiprotestante movida pelo Governo francês. Emigrou então para Basiléia (Suíça), onde escreveu sua obra principal: Religionis Christianae Institutio, que se opunha fortemente à doutrina católica relativa aos dogmas, aos sacramentos e ao culto. De Basiléia, querendo voltar à França para breve visita, passou por Genebra, onde foi detido por Farel, que Ihe pediu servisse à igreja local convulsionada. Tendo acedido, Calvino instaurou em Genebra severa disciplina, cerceando a liberdade de consciência e de conduta dos cidadãos.



A oposição em 1538 conseguiu expulsar de Genebra Calvino e Farel; mas, após três anos de ausência, voltou aquele, gloriosamente chamado por representantes da cidade. Passou então a desenvolver atividade cada vez mais intensa como teólogo e organizador.



A teologia de Calvino, embora se assemelhe à de Lutero, tem seu ponto característico no conceito de Deus. Colocou a ênfase sobre a Majestade e a Soberania divinas, a ponto de dizer que há duas predestinações: uma para a salvação e outra, explícita, para a condenação eterna; Deus não apenas permite a perda dos pecadores, mas impele/os para o abismo. Deus, segundo consta, proibe o pecado a todos, mas na verdade quer que alguns pequem, porque devem ser condenados. Calvino, embora propusesse doutrina tão espantadora, sabia atrair discípulos, pois afirmava: todo aquele que crê realmente na justificação por Cristo, é do número dos predestinados e pode viver tranqüilamente porque a salvação lhe está garantida.



Ao organizar a lgreja, Calvino instituia duas comissões: a Venerável Companhia de pastores e doutores, encarregada do magistério, e o Consistório composto de pregadores e doze senadores leigos, que tinha a tarefa de zelar pela disciplina, à semelhança da Inquisição Medieval: essa Comissão visitava as casas, servia/se de denúncias e espionagem paga; os réus gravemente culpados, se persistissem no erro, eram entregues a um tribunal. Este proferiu, de 1541 a 1546, 58 sentenças de morte; a tortura era aplicada com freqüência.



A população de Genebra teve que se submeter à disciplina calvinista: as festas eclesiásticas foram reduzidas aos domingos; o culto limitou/se à oração, à pregação e ao canto de salmos, com a celebração da Santa Ceia quatro vezes por ano. A vida social tomou,um aspecto tristonho, pois foram abolidos o teatro, as danças, o jogo de cartas, a pompa das vestes. o espírito calvinista é pessimista; por isto afastava/se de tudo o que pudesse ornamentar a natureza humana corrompida pelo pecado.



Calvino declarou a guerra aos humanistas, que eram os libertinos no plano moral; Lutero os aceitara, porque ao menos combatiam o Papado. os calvinistas tornaram/se, em seus primeiros tempos, inimigos da ciência, da arte e da literatura, concebendo uma verdadeira fobia do prazer.



Em 1555 estava consolidada a posição de Calvino como ditador religioso e, em certo grau, politico da ´´Roma protestante´´, para onde confluiam fugitivos da França, da ltália e da lnglaterra. o reformador fundou uma Academia teológica, cuja direção foi confiada ao nobre francês Teodoro de Beza (

#8224; 1605), o mais fiel cooperador de Calvino e seu sucessor. Neste instituto formaram/se jovens de diversas nacionalidades, de modo que se tornou um foco de missões calvinistas. Até a morte (27/,05/1564) Calvino exerceu grande influência, tendo sido denominado já por seus contemporãneos ´´o Papa protestante´´.


Os calvinistas se propagaram pela França, a Inglaterra, a Escócia, a Holanda, países navegadores, que levaram as novas idéias para as terras orientais e ocidentais recém descobertas, principalmente para a América do Norte. A partir da segunda metade do século XVI, foi/lhes dado o nome de ´´Igreja Reformada´´, que se tornou importante força no campo da economia, do comércio e da politica respondendo pelo puritanismo e pelo espírito de conquista de povos anglo/saxões e germãnicos.

Pa z e Bem!
Maria Cunha

domingo, 25 de julho de 2010

Revolução Sexual, como tudo começou...

A maioria das pessoas pensa que toda essa “promoção da sexualidade”, desvirtuando radicalmente a beleza do sexo, seja apenas algo fortuito nascido espontaneamente nos corações dos jovens; não é bem assim.

Atrás de tudo esse sexismo atual (pornografia escrita, filmes pornôs, motéis, comerciais eróticos, músicas, homossexualismo, “gênero”, etc. ) que inunda os meios de comunicação (rádio, tv, músicas, internet, cinema, jornais, revistas…) é movido por uma ideologia que foi transformada em “Revolução Sexual” a partir dos anos 60.

Tudo começou com a filosofia ateísta; os filósofos ateus como Heidegger, Marcuse, Shoppenhauer, Feuerbach, Nietsche, Marx, Engels, Freud e companhia. Herbert Marcuse, judeu alemão (nasceu em Berlim, em 19 de Julho de 1898 e faleceu em 29 de Julho de 1979), foi um influente sociólogo e filósofo alemão naturalizado norte-americano, pertencente à Escola de Frankfurt, escreveu um livro “Eros e Civilização” (Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1955), que deu partida à Revolução Sexual. É um livro que já está na sua 19ª edição e que é muito lido por jovens universitários.

Marcuse era ateu e comunista. Escreveu muitas obras, entre elas: “Reason and Revolution”, 1941 (Razão e revolução, Paz e terra, RJ); “Soviet Marxism”, 1958 (Marxismo Soviético, São Paulo, Saga, 1968); “One-Dimensional Man”, 1964 (Ideologia da Sociedade Industrial, Editora Zahar, Rio de Janeiro); “Psychoanalyse und Politik”, 1968 (Psicoanálises y politica, Ediciones, Península, Barcelona); “Towards a Critical Theory of Society”, 1969 (Idéias sobre uma Teoria Crítica da Sociedade, Zahar Editores, RJ); “Counter-revolution and Revolution”, 1972 (Contra-revolução e revolução, Zahar, RJ, 1973).

O Padre Paulo Ricardo (www.padrepauloricardo.org), reitor do Seminário de Cuiabá, MT, mostra muito bem em seu site como Marcuse e outros provocaram a chamada Revolução Sexual que hoje assistimos. Você pode ouvir sua Palestra “Revolução sexual e Marxismo” no site.

O primeiro grande efeito da filosofia de Marcuse, que vamos explicar, foi o famoso festival “hippies” de Woodstock, onde predominou a liberação sexual, a música rock pesada e as drogas. A mensagem era essa: “Paz e Amor; não faça guerra, faça amor!”

Aparentemente um belo slogan, que encantou a juventude saida da Guerra do Viet Nan. Em seu livro “Eros e Civilização”, Marcuse, que era marxista, e que pretendia acabar com o capitalismo, engendrou a seguinte tese. Ele achava que a sociedade americana era capitalista, amante do dinheiro, porque estravazava nele a repressão sexual que sofria devido à formação cristã que recebera. O tabu sexual abria as portas para a ganância, era a sua tese.

Para o filósofo a repressão sexual fazia o americano estravazar na busca das riquezas a frustração; então, o “remédio” para acabar com o capitalismo era des-reprimir a sociedade capitalista com a liberação sexual, eliminando-se todos os tabus sexuais; e para isso era necessário uma Revolução sexual do tipo “não faça guerra, faça amor”; “paz e amor, bicho!”

A droga foi disseminada entre os jovens da primeira geração da Revolução Sexual, com o objetivo de lhes anestesiar a consciência, afim de poderem aceitar a quebra dos “tabus sexuais”, uma vez que receberam de seus pais uma boa e correta formação sexual. A música teve o mesmo fim.

Para Marcuse os Estados Unidos faziam guerra (Viet Nam, II Guerra, etc) porque através dela podiam manter o poder econômico, e dar vazão à ganância produzida pela repressão sexual de sua formação cristã.

Dentro da mentalidade marxista da “luta de classes”, Marcuse não deixava uma alternativa para o diálogo com o capitalismo, mas somente a saída do seu aniquilamento. Uma vez que o comunismo não conseguiu fazer isto pelas armas – a derrocada da União Soviética em 1989 mostrou isso – então, devia optar-se pela “revolução dos costumes e da cultura”. É por isso que hoje as universidades divulgam a cultura marxista, pagã, materialista e inimiga radical da Igreja.

Em outras palavras, Marcuse idealizou, com outros filósofos, que a implantação do marxismo-comunismo no mundo moderno só poderia acontecer com a destruição da moral judaico-cristã, razão da repressão sexual. Esse é o seu objetivo; e a Igreja hoje está sozinha na defesa da moral cristã que moldou o Ocidente.

Infelizmente hoje a universidade, na maioria das vezes até por falta de conhecimento mais aprofundado defende as idéias marxista que prega essa cultura. A Imprensa segue na mesma linha porque os jornalistas são formados em sua grande maioria nessas mesmas universidades. Assim, esses formadores de opinião vão espalhando essas idéias cujo fruto hoje se vê nitidamente conduzindo também a política: distribuição farta de camisinhas e pílulas abortivas do dia seguinte, apoio ao homossexualismo e lesbianismo, oficialização de casamentos gays, aprovação do aborto, pornografia deslavada em todos os meios de comunicação, especialmente a internet de fácil acesso aos jovens.

O Padre Paulo Ricardo chama a atenção em seu ensino para algo sério. O jovem de ontem (1970 e seguintes) cometia os desatinos sexuais com uma consciência de que fazia algo errado diante da formação que recebeu, mas hoje, a atual juventude já não recebe mais essa formação em casa, então, pratica os desatinos sexuais, e muito piores, sem a menor dor de consciência. Ele constata, como confessor, que os pecados sexuais hoje são cometidos numa escala muito maior de depravação e requinte.

Hoje só resta na família e na lgreja uma Resistência contra essa terrível Revolução sexual; os seus frutos amargos estão destruindo não só os jovens, como suas famílias, bem como a sociedade.

Fonte: Prof. Felipe Aquino – http://www.cleofas.com/.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A ponte entre a Ciência e a Religião (Amit Goswami)

Já algum tempo acompanho os trabalhos do Dr Goswami, tenho por ele respeito, admiracao e louvo sua coragem de enquanto físico caminhar para o campo da espiritualidade num mundo materialista e laico principalmente na cultura ocidental. Hoje infelizmente já nao temos espaco para falar de Deus na nossa família e no meio intelectual. Nossa cultura foi de fato influenciado por alguns pensadores do passado como Dostoievsky quando disse que se Deus não existe, tudo é permitido. No final do século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em sua obra “Assim Falou Zaratustra”, declarou “a morte de Deus”. Já no século XX, o inglês Francis Bacon chegou a declarar que seria lícito torturar a natureza para desta arrancar os segredos. O humanismo antropocêntrico que deixou a sua marca ao influenciar a humanidade de uma enganosa autossuficiência, que fez Laplace considerar Deus uma hipótese inteiramente desnecessária, e que levou Augusto Comte a dizer que havia chegado a hora de dispensarmos o Todo-Poderoso. Este tipo de espécie de poder, com influências difíceis sobre a humanidade, põe o ser humano acima do mundo e o tira do contexto do universo, levando-o a acreditar numa fantasia sem modéstia, um ser humano que se isola numa condição fantasiosa e basta a si mesmo. No meu entendimento o Dr Goswami está nos ajudando a enxergar que as coisas nao sao bem assim. Ele conseguiu através de suas pesquisas fazer uma ponte entre ciencia e espiritualidade ou seja questionou a visao materialista da fisica.

Assim como Deepak Chopra em seu livro (A Cura Quatica)  revolucionou a Medicina, de certa forma, quando nos chamou a atencao para o fenômeno chamado “efeito placebo” para o qual os cientistas não têm explicação. Este trabalho, é muito semelhante à forma de pensar, do Dr Goswami.Se, de fato, houver cura quântica, se houver Medicina mental, o efeito da mente sobre a cura, então as pessoas serão de fato ajudadas, não apenas no campo da Psicologia, mas no campo da verdadeira saúde física. Ainda segundo o Dr Goswami a saúde física real, que importa para muito mais pessoas do que a saúde mental, ainda não estamos esclarecidos o bastante para levar a saúde mental tão a sério. Mas todos se preocupam com a saúde física, levam muito a sério. É a aplicação da nova Ciência a essas áreas, especialmente na área da saúde, que vai trazer a revolução de que Deus é importante, a consciência é importante, a criatividade é importante, observar o livre-arbítrio e responsabilidade é importante, que temos um paradigma científico que pode unir todas essas coisas, trazê-las para junto da velha ciência e ter formas objetivas de proceder e prever. Será uma ciência previsível, poderá ser verificada e também será útil. Isso é o que mudará a percepção do público. A percepção dos cientistas,A ponte entre a Ciência e a Religião.

Desejo que assim como fomos influenciado pelos pensadores do passado, num futuro próximo a geracao dos nossos filhos possam de alguma forma já compreender a profundidamente de questoes dentro da física quantica e ter a possibilidade de deixar fluir a mente criativa criando assim espaco para uma infinidades de possibilidades quanticas.

Segue abaixo transcrição completa da entrevista concedida pelo físico Amit Goswami ao programa "Roda Viva" da TV Cultura, no dia 12/3/2001.


O Roda Viva entrevista o físico nuclear indiano AMIT GOSWAMI. Considerado um importante cientista da atualidade ele tem instigado os meios acadêmicos com sua busca de uma ponte entre a ciência e a espiritualidade. Amit Goswami vive nos Estados Unidos. É PHD em física quântica e professor titular de física da Universidade de Oregon. Há mais de quinze anos está envolvido em estudos que buscam construir o ponto de união entre a física quântica e a espiritualidade. Já foi rotulado de místico, pela comunidade científica, e acabou acalmando os críticos através de várias publicações técnicas a respeito de suas idéias. Em seu livro O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE - publicado no Brasil - ele procura demonstrar que o Universo é matematicamente inconsistente sem a existência de um conjunto superior - no caso, DEUS. E diz que, se esses estudos se desenvolverem, logo no início do terceiro milênio Deus será objeto de ciência e não mais de religião.

A bancada de entrevistadores será formada por Mário Sérgio Cortella, filósofo e dir.em educação, prof. do Depto. Teologia e ciências religião da Puc SP; Cláudio Renato Weber Abramo, jornalista e mestre em filosofia da ciência; Pierre Weil, educador e reitor da Universidade Holísitica Internacional de Brasília; Rose Marie Muraro, escritora e editora; Leonor Lia Beatriz Diskin Pawlowicz, jornalista e Pres.da Assoc. Palas Athena; Joel Sales Giglio, psiquiatra, ex chefe do Depto.de Psic. Médica e psquiatria da Unicamp, analista junguiano da Assoc. Junguiana do Brasil e membro da International Assossiation for Analitical Psychology; Carlos Ziller Camenietzki, físico, dr. em filosofia e pesquisador do Museu de Astronomia do Min. da Ciência e Tecnologia.

Heródoto Barbeiro: Dr. Amit Goswami, Boa Noite. Inicialmente eu gostaria que o senhor dissesse aos telespectadores da TV Cultura, que ao longo do século XX os cientistas estiveram ligados muito mais ao materialismo do que à religiosidade. A impressão que eu tenho é que nessa virada para o século XXI, essas coisas estão mudando. O senhor poderia nos explicar o porque dessa aproximação entre a ciência e a espiritualidade?

Amit Goswami: Com prazer. Esta mudança da ciência, de uma visão materialista para uma visão espiritualista, foi quase totalmente devida ao advento da Física Quântica. Ao mesmo tempo, houve algumas mudanças em Psicologia transpessoal, em Biologia evolucionista, e em medicina. Mas acho que é correto dizer que a revolução que a Física Quântica causou na Física, na virada do século, seria baseada nessas transições contínuas, não apenas movimento contínuo, mas também descontínuo. Não localidade. Não apenas transferência local de informações, mas transferência não-local de informações. E, finalmente, o conceito de causalidade descendente. É um conceito interessante, pois os físicos sempre acreditaram que a causalidade subia a partir da base: partículas elementares, átomos, para moléculas, para células, para cérebro. E o cérebro é tudo. O cérebro nos dá consciência, inteligência, todas essas coisas. Mas descobrimos, na Física Quântica que a consciência é necessária, o observador é necessário. É o observador que converte as ondas de possibilidades, os objetos quânticos, em eventos e objetos reais. Essa idéia de que a consciência é um produto do cérebro nos cria paradoxos. Em vez disso, cresceu a idéia de que é a consciência que também é causal. Assim, cresceu a idéia da causalidade descendente. Eu diria que a revolução que a Física Quântica trouxe, com três conceitos revolucionários, movimento descontínuo, interconectividade não-localizada e, finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito de causalidade descendente, a consciência escolhendo entre as possibilidades, o evento real. Esses são os três conceitos revolucionários. Então, se houver causalidade descendente, se pudermos identificar essa causalidade descendente como algo que está acima da visão materialista do mundo, então Deus tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser, a consciência, interage com o mundo: através da escolha das possibilidades quânticas.

Rose Marie Muraro:O que mais me espanta na Física é o problema da medição quântica de Heisemberg, que voce, realmente, acha que deve ter um observador olhando e que modifica a realidade, por exemplo, transforma a onda em partícula. Eu gostaria de saber... isso aí houve uma grande briga de Einstein com Niels Bohr. Eu gostaria de saber, em escala cósmica, onde não há observadores, se há um observador supremo, na sua opinião, e se ele cria matéria ou como se faz esse fenômeno?

Amit Goswami: Essa é a questão fundamental, Rose Marie, porque.. qual é o papel do observador? É a pergunta que abre a integração entre Física e espiritualidade. Na Física Quântica, por sete décadas, tentou-se negar o observador. De alguma forma, achava-se que a Física deveria ser objetiva. Se dessem um papel ao observador, a Física não seria mais objetiva. A famosa disputa entre Böhr e Einstein, a que se refere essa disputa, basicamente, sempre terminava com Bohr ganhando a discussão, mostrando que não há fenômeno no mundo a menos que ele seja registrado. Bohr não usou a consciência.. mas atualmente, vem crescendo o consenso, muito lentamente, de que a Física Quântica não está completa, a menos que concordemos que nenhum fenômeno é um fenômeno, a menos que seja registrado por um observador, na consciência de um observador. E isso se tornou a base da nova ciência. É a ciência que, aos poucos, mas com certeza, vem integrando os conceitos científicos e espirituais.

Cláudio Abramo: Em sua fala inicial, o senhor mencionou, deu como fato, que teria crescido a idéia de que haveria uma causalidade no sentido inverso àqueles do tradicional que se considera, e daí saltou para a afirmação de que isso abriria a porta para a entrada de Deus. A minha pergunta se divide em duas. Em primeiro lugar, essa idéia cresceu aonde? Quem, além do senhor, defende esse tipo de visão de mundo? E... dois, o porque Deus entrou aí nessa equação?

Amit Goswami: Na Física Quântica há um movimento contínuo. A Física Quântica prevê isso. Não há dúvida que a Matemática Quântica é muito capaz, muito competente, e ela prevê o desenvolvimento de ondas de possibilidades, a matéria é retratada como ondas de possibilidades. O modo como elas se espalham é totalmente previsto pela Física Quântica. Mas agora temos probabilidades de possibilidades. Nenhum evento real é previsto pela Física Quântica. Para conectar a Física Quântica a observações reais, embora não vejamos possibilidades e probabilidades, na verdade vemos realidades. Esse é o problema das medições quânticas. E luta-se com esse problema há décadas, como eu já disse, mas nenhuma solução materialista, uma solução mantida dentro da primazia da matéria foi bem sucedida. Por outro lado, se considerarmos que é a consciência que escolhe entre as possibilidades, teremos uma resposta, mas a resposta não é matemática. Teremos de sair da matemática. Não existe Matemática Quântica para este evento de mudança de possibilidades em eventos reais, que os físicos chamam de ‘colapso da onda de possibilidade em realidade’. É essa descontinuidade do colapso que nos obriga a buscar uma resposta fora da Física. O que é interessante é que se postularmos que a consciência, o observador, causa o colapso da onda de possibilidades, escolhendo a realidade que está ocorrendo, podemos fazer a pergunta: qual é a natureza da consciência? E encontraremos uma resposta surpreendente. Essa consciência que escolhe e causa o colapso da onda de possibilidades não é a consciência individual do observador. Em vez disso, é uma consciência cósmica. O observador não causa o colapso em um estado de consciência normal, mas em um estado de consciência anormal, no qual ele é parte da consciência cósmica. Isso é muito interessante. O que é a consciência cósmica diante do conceito de Deus, do qual os místicos e teólogos falam?

Mário Cortella: Uma questão para o doutor Amit que é a seguinte: o senhor é originado de uma cultura, que é a cultura da Índia, onde o hinduísmo, como religião, tem uma profusão de deuses ou de divindades, ou de deidades. Alguns chegam a falar em 300 milhões de deidades dentro da religião hindu. De outro lado, seu pai foi um guru brâmane, o senhor tem um irmão que é filósofo. Esta mescla de situações induziu no senhor uma compreensão em relação a um ponto de chegada, na religião, partindo da Física, ou o senhor já partiu da religião e, por isso, chegou até a Física e supõe que a Física Quântica é uma das formas de praticar teologia?

Amit Goswami: Obrigado pela pergunta, porque costumam me perguntar se minha formação como indiano hindu afeta o modo como pratico a Física. Na verdade, fui materialista por um bom tempo. Fui físico materialista dos 14 anos de idade até cerca de 45 anos. O materialismo foi importante para mim. Eu trabalhei com ele, filosofei nele, cresci nele. Eu obtive sucesso em Física dentro da Física materialista. Mas quando comecei a trabalhar no problema da medição quântica, eu realmente tentei resolvê-lo dentro do materialismo. Enquanto todos nós trabalhávamos, falei com muitos físicos que trabalhavam no problema (este é o problema mais estudado da Física, um dos mais estudados). E todos tentávamos resolver este paradoxo: se a consciência é um fenômeno cerebral, obedece à Física Quântica, como a observação consciente de um evento pode causar o colapso da onda de possibilidades levando ao evento real que estamos vendo? A consciência em si é uma possibilidade. Possibilidade não pode causar um colapso na possibilidade. Assim, eu tive de abandonar esse pensamento materialista. Embora fosse interessante, em minha vida pessoal eu sentia necessidade de mudar. Alguns consideraram uma transição de meia-idade, e os dois problemas, crescimento na vida pessoal e o problema da medição quântica, se confundiram, e eu comecei a ver a consciência não apenas como um problema físico, mas também como um problema pessoal. O que é que deixa alguém feliz? Qual é a natureza da consciência, da qual as pessoas falam quando se pensa além do materialismo? Então, comecei a meditar e a me aproximar de alguns místicos, e isso ajudou. E um dia, quando falava com um místico, e ele me dava a tradicional visão mística do mundo, que eu já ouvira muitas vezes antes, mas, de algum modo, essa conversa causou uma nova impressão em mim. Eu pude ver, eu realmente vi além do pensamento, tive a percepção de que a consciência é a base do ser, e essa percepção soluciona o problema da medição quântica. Não só isso: pode ser usada como base para a ciência. Normalmente, os cientistas presumem que a ciência deve ser objetiva, etc, mas eu vi, naquele momento, que a ciência deve ser objetiva até um certo ponto. Eu chamo de objetividade fraca, mas isso pode ser alcançado nessa nova Metafísica. Consciência é a base de todos os seres. Então, para mim, foi o contrário, eu fui da Física para a espiritualidade, sob o aspecto da Física. Porque minha formação espiritual, embora em retrospecto, eu possa dizer que foi saudável, deve ter sido, como Freud diria, no subconsciente. Mas conscientemente foi o oposto. Eu vim de uma questão muito inquietante, de como resolver um problema físico, um problema do mundo, pois esse é o problema mais importante do século XX. E a partir disso, esse salto conceitual, esse salto quântico perceptivo me fez reconhecer que o modo como espiritualistas vêem a consciência é o modo certo de ver a consciência. E esse modo de ver a consciência resolve o problema da medição quântica. Ele nos dá a base para uma nova ciência.

Carlos Ziller: Eu gostaria de fazer uma pergunta, dando um passo mais atrás no sentido da própria Física clássica. Porque nós sabemos, hoje em dia, que os fundadores da Física clássica, Newton, Déscartes e outros grandes cientistas do século XVII, para eles, para os projetos científicos que propunham, Deus era uma parte constitutiva inseparável do mundo que eles imaginavam, seja como sendo quem garantia a eficácia, eficiência, o funcionamento das leis do mundo, seja como alguém que operava os próprios fenômenos naturais. Bom, isso foi sendo afastado, expulso do mundo da ciência ao longo do século XVIII, século XIX, ou século XX, talvez, até os anos 50 tenha sido o ápice dessa questão, os cientistas, os físicos, sobretudo, não gostavam totalmente nada de falar sobre esse assunto. Deus era um problema. Talvez o seu estudo e a sua reflexão esteja tentando recolocar no seu próprio lugar, pelo menos foi assim que eu interpretei, algumas idéias do próprio século XVII, dos fundadores da ciência moderna. Eu gostaria de saber se essa aproximação do Deus do Newton, o que garantia que as leis naturais funcionavam, se esse Deus tem algum paralelo com a consciência, supra-consciência que o senhor propõe como sendo o princípio a partir do qual os fenômenos do mundo, a realidade estaria constituída?

Amit Goswami: É uma pergunta muito boa. Os conceitos da Física clássica, no início, não separavam Deus, como disse, mas então, aos poucos, descobriu-se que Deus não era necessário. Depois que Deus estabeleceu o movimento do mundo, ele passou a ser guardião de seu jardim, e isso é o que a maioria dos físicos clássicos pode fazer. Mas na Física Quântica, há o problema da medição. Como as possibilidades tornam-se eventos reais, temos espaço para uma consciência, e ela deve ser uma consciência cósmica. Há uma semelhança com o modo como Deus é retratado, pelo menos na subespiritualidade tradicional, não na mente popular. A mente popular considera Deus um imperador, um super-humano sentado no céu. Essa imagem de Deus não é científica, e espero que esteja claro que não estamos falando em Deus dessa forma, mas Deus nessa consciência mais cósmica, nessa forma mais estrutural. Esse tipo de Deus está retornando porque, se voce se recorda, o debate entre teólogos e cientistas sempre foi: Deus é o guardião ou Deus intervém? Teólogos afirmam que Deus intervém nos seres biológicos. E então surgiu Darwin. Foi um grande golpe nos teólogos, porque antes, apesar de Newton, os teólogos podiam citar o exemplo da Biologia, cujo propósito é muito óbvio, pelo menos, óbvio para a maioria. Mas a teoria de Darwin foi um golpe porque se dizia que a evolução ocorria... mas ela era natural? Darwin disse que ela era natural. Oportunidade e necessidade. Não há necessidade de Deus na evolução e não há necessidade de Deus na biologia. Então, no século XX, surgiu o behaviorismo e a idéia de que temos livre-arbítrio subjetivo. Essa idéia também foi superada, porque experimentos mostraram que somos muito condicionados, não há livre-arbítrio. Contra tudo isso, vejam só, a Física Quântica também cresceu ao mesmo tempo que o behaviorismo, e a Física Quântica tem uma coisa peculiar: o princípio da incerteza. O mundo não está determinado como imaginamos. Deus não é o guardião. O princípio da incerteza levou à onda de possibilidades, depois o colapso da onda de possibilidades para a introdução da idéia do colapso da consciência. Paradoxalmente, fomos criados contra essa idéia, mas nos anos 90, eu, Henry Stab, Fred Allan Wolf, Nick Herbert, todos mostramos que esse paradoxo pode ser resolvido. Não há paradoxo se presumirmos que a consciência que causa o colapso da onda de possibilidades em eventos reais é uma consciência cósmica. E o evento do colapso em si nos dá a separação matéria-objeto do mundo. Assim, não só resolvemos o problema da medição quântica como também demos uma nova resposta de como a consciência de um torna-se várias. Como ela se divide em matérias e objetos, para poder ver a si mesma. E essa idéia de que o mundo é um jogo da consciência, um jogo de Deus, que é uma idéia muito mística, voltou à tona. Então, podemos voltar à biologia. Deus intervém na biologia? Deus intervém na vida das pessoas? Essas perguntas continuam tendo respostas muito positivas. Vi, em um jornal sobre Biologia evolucionista, que há muitos furos conhecidos na teoria darwiniana. Esses furos são chamados sinais de pontuação. A teoria da evolução de Darwin explica alguns estágios homeostáticos da evolução, ou seja, como as espécies adaptam-se a mudanças ambientais. Mas não explica como uma espécie torna-se outra. Essa especiação, mudança de uma espécie em outra, é uma nova mudança na evolução, não está na teoria de Darwin. Experimentalmente, isso é demonstrado em lacunas de fósseis. Não temos uma continuidade de fósseis mostrando como um réptil tornou-se um pássaro. A idéia é que sejam sinais de pontuação, estágios muito rápidos de evolução. Eu sugiro que isto seja um salto quântico, um salto quântico na evolução. Nesse salto quântico, a consciência interveio, não de um modo subjetivo, de um modo caprichoso, mas de um modo muito objetivo.. muito objetivo, e essas idéias objetivas ficam claras com o trabalho de Rupert Sheldrake e outros, o modo como isso pode ser objetivo. Mas, sem dúvida alguma, há uma intervenção da causalidade descendente. Não se pode explicar a Biologia evolucionista só com a causalidade ascendente. Essa é a coisa mais interessante, a partir do pensamento original dos físicos de que Deus deve ser o guardião, pois tudo pode ser explicado e tudo é determinado, que não precisamos de Deus. Agora, estamos fechando o círculo, e vemos que não só precisamos de Deus: há movimentos descontínuos no mundo para os quais não existe explicação matemática ou lógica. Ainda assim, é totalmente objetivo, não é arbitrário. Deus age de forma objetiva, bem definida. A consciência cósmica não é subjetiva, não é a consciência individual que afeta o mundo. Isso ocorre de forma cósmica, podemos discutir objetivamente. A ciência detém seu poder, sua objetividade e, ainda assim, temos agora a descontinuidade, temos a interconectividade e podemos falar sobre vários assuntos dos quais os místicos tradicionalmente falam.

Pierre Weil: Durante essa discussão eu me coloquei como educador do ponto de vista do telespectador, e estou um pouco com medo de que alguns já desligaram o aparelho diante do alto nível científico do debate, que é necessário e indispensável. Eu queria ressaltar a importância da sua presença aqui em termos mais simples. Para o telespectador... tem telespectadores que acreditam em Deus, acreditam em espiritualidade e tem outros que não acreditam em Deus, não acreditam... são os materialistas versus os espiritualistas. Entre os dois têm os que não sabem ou os que nem se interessem para isto. Nestas três categorias, a sua presença aqui tem uma importância muito grande. Ela tem uma importância porque nesse século que passou, nós estivemos assistindo a três grandes movimentos: o primeiro movimento, em que muitos espiritualistas, muitas pessoas que acreditavam em Deus, abalados pelas “provas”, pelas evidências da ciência, largaram a religião e só acreditaram na matéria. E nisso foram até muitos sacerdotes de várias religiões. Largaram a batina, largaram a sua fé e se transformaram em protagonistas do materialismo. Estamos assistindo, atualmente, a um movimento contrário. Eu tenho, por exemplo, dois amigos meus. Um, Matew, grande biólogo francês, largou a biologia e hoje ele é monge budista tibetano. O outro era astrofísico, colega seu, largou a astrofísica e hoje ele é rabino. Então estamos assistindo a um movimento contrário. A sua presença aqui apresenta uma terceira saída, e que me parece a mais conveniente e a mais razoável, a mais holística, que é a minha também. A sua, como Física Quântica, fez com que, vindo do materialismo, não caísse no extremo do espiritualismo, mas integrou os dois. Eu fiz isso também como psicólogo, através da psicologia transpessoal... o senhor através da Física Quântica, eu, através da Psicologia Transpessoal... e nos encontramos muito bem e nos abraçamos o tempo todo. A minha pergunta é uma pergunta pessoal: poderia contar para os telespectadores, em termos mais simples, o que fez com que Amit Goswami ficasse no meio do caminho e fizesse um encontro dentro dele, da razão da Física, da razão materialista, e do outro lado, da Intuição? Falou nos seus amigos místicos, mas pela minha experiência eu sei que a segurança pela qual eu falo, não é apenas racional, ela é baseada numa experiência chamada interior, chamada subjetiva, chame como quiser, de luz, e de saber mais ou menos como que é esse mundo espiritual. Qual é a sua experiência que fez com que unisse, na sua pessoa, o lado masculino, racional, e o lado feminino, intuitivo, sentimental? O que aconteceu com a sua pessoa? Eu acho que isso nos vai reconciliar com os telespectadores.

Amit Goswami: Sim, obrigado. Esta é a questão fundamental. Às vezes, eu digo que todos nós, todas as pessoas, espectadores, cientistas, o orador, todos aqui, todos nós temos dois lados. Um é semelhante a Newton, que quer entender tudo em termos de objetividades, ciências e matemática, e o outro é William Blake, que é místico e ouve diretamente, intuitivamente, e desenvolve seu retrato do mundo baseado nessa percepção intuitiva. O que ocorre nessa integração, o que ocorreu por um tempo, mesmo antes de essa integração começar, é que começamos a entender a natureza da criatividade. E a falsa idéia de que cientistas só trabalham com idéias racionais e matemáticas, está, aos poucos, caindo. Einstein disse isso muito claramente: “Não descobri a Teoria da Relatividade apenas com o pensamento racional”. As pessoas não levam a sério tais declarações. Mas Einstein falou sério. Ele sabia que a criatividade era importante. Agora, quase cem anos de pesquisas sobre criatividade estão mostrando que os cientistas também dependem da intuição. Eles também dependem de visões criativas para desenvolver sua ciência. Nem tudo é racional, matemático; nem tudo é pensamento racional. Voce perguntou sobre minha experiência pessoal. Eu já compartilhei a experiência fundamental pessoal que tive quando troquei... nem devo dizer que troquei, eu tive uma percepção. Não posso descrevê-la em termos de espaço-tempo. Eu estava fora do espaço-tempo, experimentando diretamente a consciência como a base do ser. É esse tipo de experiência que dá a base para ficarmos convencidos, para termos certeza de que a realidade é algo mais do que o espaço-tempo no mundo em movimento faz parecer. Este é o escopo fundamental para o ponto de encontro dos cientistas e espiritualistas. Porque os espiritualistas ouviram esse chamado, essa intuição, muito antes. Os cientistas também a ouviram. Mas por eles sempre expressarem suas percepções em termos de lógica, em termos de razão, isso ocorre mais tarde. Eles esquecem a origem de seu trabalho, a origem de sua percepção. Já para os espiritualistas, a percepção leva à transformação do modo de vida. Assim, eles nunca esquecem que foi a intuição que trouxe a felicidade, foi ela que os fez quem são. Essa é a diferença. Cientistas usam a intuição para desenvolver sistemas que estão fora deles, o que chamo de criatividade externa. E isso torna-se uma camuflagem dos verdadeiros mecanismos do mundo para eles. Enquanto espiritualistas mantêm-se com a percepção, mudam suas vidas, e incidentalmente, mudam o mundo externo. Mas eles sabem que aquela percepção que tiveram é a coisa fundamental que gere o mundo. Para eles, a consciência é cósmica, isto é algo determinado. Para os cientistas, a mesma descoberta é possível, mas eles ignoram o chamado e prestam mais atenção ao que ocorre no cenário externo. Acho que, se todos nós compartilharmos isso, o mundo poderá mudar. Agradeço pela pergunta. Estou disposto a compartilhar: escrevi um livro sobre criatividade, no qual conto minhas histórias pessoais. Em todos os meus livros conto minhas histórias pessoais. É importante compartilharmos nossas histórias pessoais, e acabar com o mito de que os cientistas são apenas pensadores racionais. Eles também têm percepções que vão muito além do pensamento racional.

Heródoto Barbeiro: Doutor Goswami, o senhor falou muito em Deus durante a primeira parte deste programa, e aqui no ocidente, quando se fala em Deus, se imagina que exista o seu contraponto. E aqui no ocidente se dá uma série de nomes a ele. Eu gostaria de saber como é que o senhor explica essa... se o senhor concebe a existência desse contraponto, dessas outras forças que não são necessariamente Deus.

Amit Goswami: Essa questão de Deus contra o Mal é interessante. Segundo a visão da Física Quântica, existem as forças da criatividade e as forças do condicionamento. Não falamos muito sobre isso, mas eu defendo a idéia que a Física Quântica nos dá, de que é a consciência cósmica que escolhe entre as possibilidades para trazer à realidade o evento real que ocorre. A questão é: então temos de entrar nesse estado incomum de consciência, no qual somos cósmicos, no qual escolhemos e, então... como entrar nessa consciência individual na qual somos uma pessoa? Na qual temos personalidade e caráter? Ao trabalharmos com a matemática disso, descobrimos que essa condição ocorre porque todas as nossas experiências aparecem após serem refletidas no espelho da nossa memória, muitas vezes. É essa memória que causa o condicionamento. Uma propensão a agir do modo como já agi antes. Uma propensão para responder a estímulos do modo como já respondi antes. Todas as pessoas sabem disso. Elas passam a manhã no cabeleireiro e o marido volta para casa e diz: “O que há para o almoço?”, sem notar o novo penteado da esposa, o que é muito irritante, tenho certeza. Mas esse condicionamento é o que nos torna indivíduos. Então, a questão é que, na Física Quântica, vemos claramente o papel da consciência cósmica, que eu chamo de “ser quântico”, no qual há criatividade, há forças criativas. E então perdemos essa criatividade, ficamos condicionados. E o condicionamento nos faz parecidos com máquinas. Assim, o mal maior que a nova ciência nos traz é o condicionamento. Pois é ele que nos faz esquecer a divindade que temos, o poder criativo que temos, a força criativa que realmente representa o que buscamos quando invocamos Deus. Mas isso também está incompleto. Essa questão pode ser estudada mais a fundo e há um escopo maior, trazendo idéias como emoções negativas e positivas. Assim, teremos uma exposição maior do Bem contra o Mal. Mas, de fato, a consciência cósmica inclui tudo. Esse é o conceito esotérico, não tanto exotérico, mas esotérico, por trás de todas as religiões, de que há apenas Deus, e que o Bem e o Mal são uma divisão, uma necessidade da criação, mas não é fundamental, ou seja, o diabo não é igual a Deus; o diabo é uma criação subsequente. É útil pensarmos em termos de Bem e Mal mas, às vezes, é preciso transcender isso, é preciso perceber que Deus é tudo. Esse é o cenário que a Física Quântica defende.

Joel Giglio: Doutor Amit, eu sou psiquiatra, analista Junguiano, formado pela Associação Junguiana do Brasil, e tenho muitas perguntas a fazer ao senhor. Mas em vista do tempo e dos objetivos desse programa, vou me centrar numa delas. Eu pensei muito, quando li seu livro, em questões que ainda são incógnitas à nossa prática psicoterápica. A questão do ‘insight’... O ‘insight’ nós não sabemos, em psicoterapia, quando ele vai acontecer, como vai acontecer. Ele simplesmente aparece e quase que do nada, embora a gente intua que o ‘insight’ vá aparecer. A questão da criatividade... a questão da sincronicidade... mas eu gostaria de fazer uma questão sobre os arquétipos. O senhor menciona no seu livro, idéias de arquétipos de objetos mentais. Cita Platão e cita Jung, que é o criador da psicologia analítica, setor da psicologia onde eu me situo. A questão que tem me perturbado muito é: os arquétipos evoluem, embora eles estejam fora do eixo espaço-tempo? Alguns autores dizem que está havendo uma evolução dos arquétipos. Quem fala isso, por exemplo, é Sheldrake, que o senhor mencionou há pouco e que não é psicólogo, é biólogo, mas que tem uma visão diferente dentro do campo da biologia. Como é que a teoria da Física Quântica explicaria, supondo que os arquétipos evoluem, a evolução dos próprios pensamentos arquetípicos, por exemplo, a evolução do arquétipo de Deus, se é que ele está evoluindo ou não. Essa questão... e muitos outros arquétipos, nós supomos que estejam evoluindo sem anularem os arquétipos anteriores.

Amit Goswami: Obrigado pela pergunta. Sou um grande seguidor de Jung. Acho que Jung foi dos precursores da integração que está ocorrendo agora. Nos meus primeiros textos, eu citava muito a afirmação de Jung de que, um dia, a Física Nuclear e a Psicologia se unirão. E acho que Jung ficaria satisfeito com esta conversa e, em geral, com a integração da Física e da Psicologia transpessoal que vemos hoje. Isto posto, acredito no conceito de arquétipo de Jung, e acho que o modo como Jung o apresentou, e Platão o apresentou, de que são aspectos eternos da consciência, contextos eternos da consciência... a consciência tem um corpo contextual no qual os arquétipos são definidos e, então, eles governam o movimento do nosso pensamento. Acho que é um conceito muito poderoso. Mas, ao mesmo tempo, na Física Quântica, existe a idéia de que todos os corpos de consciência, tudo o que pertence à consciência, inconsciência, são possibilidades. E por causa disso, por tudo ser possibilidade, surge a questão: alguém pode ir além de arquétipos fixos e considerar arquétipos evolucionistas? Não se pode descartar o que Rupert tenta dizer. Houve uma idéia semelhante, de Brian Josephson, um físico que publicou um trabalho na Physical Review Letters, revista de grande prestígio, dizendo que as leis da Física podem estar evoluindo. Da mesma forma, outras pessoas, cientistas muito sérios, sugeriram que, talvez, forças gravitacionais mudem com o tempo. Essa idéia de arquétipos fixos é uma idéia muito importante. Eu a apóio totalmente. Mas também vejo que na Física Quântica há espaço para a evolução dos arquétipos. Não devemos descartar totalmente idéias que dizem que arquétipos evoluíram. Ainda seremos capazes de determinar isso experimentalmente. Obrigado pela pergunta.

Lia Diskin: O senhor manifesta certo interesse pelas questões éticas, grande parte do final de sua obra se dedica a essa questão. O senhor nos disse que há necessidade da participação da ambiguidade para dar garantias de criatividade no campo ético. Entretanto, no mesmo contexto, nos fala imediatamente das linhas e instruções éticas numa obra monumental da tradição indiana que se chama “Bhagavad Gitâ”. E a “Bhagavad Gitâ” se inicia pelo pressuposto da instrução do mestre para um discípulo, de que ele deve agir, de que ele deve entrar no combate, que ele deve assumir sua parte de ação, porque pertence a uma casta, a uma tradição de guerreiros, em que há ação da própria. Como fica o livre-arbítrio, como fica a ambiguidade como necessidade da criatividade dentro de um contexto de que existe um pressuposto, obviamente não-ambíguo e não-escolhível, que não pôde escolher? O que fazer... mas se está cominado a fazer, está cominado a agir? Como será isso, Professor?

Amit Goswami: Acho que essa também é uma pergunta muito difícil, muito sutil. Realmente, se considerarmos a ética compulsória, não parece haver escolha. Mas a ética não é tão definida: é muito ambígua. Lembro de uma história que o grande filósofo Jean-Paul Sartre contava. Suponha que voce vá em uma expedição de natação, ou melhor, de barco, e o barco afunde. Voce está com um amigo, voce sabe nadar, mas ele não. Mas voce não é muito forte. Se tentar salvá-lo, os dois podem morrer. Voce tem uma boa chance de se salvar, mas ama seu amigo e seu dever ético com ele está muito claro. O que fazer? Casos assim mostram claramente que há ambiguidade mesmo em decisões éticas, em decisões morais. Na Física Quântica, é muito claro que devemos esperar, e esperar pela intuição, ver se há um salto quântico, uma resposta criativa como voce a chama, se uma resposta criativa irá surgir. E é essa resposta criativa que é a resposta correta para solucionar essa ambigüidade em questões éticas. Quando a moralidade ou a ética são apresentadas como um conjunto de regras, e as pessoas seguem essas regras, elas perdem essa parte ambígua e, por causa disso, as regras perdem o sentido. Passa a ser um conjunto de regras inútil, sem vida. Mas, se considerarmos a ética com vida, e reconhecermos que temos um papel a desempenhar em todas as situações éticas, temos um papel a desempenhar em termos de irmos para dentro de nós, como as pessoas criativas fazem, combatendo isso, combatendo a ambiguidade. Então, o salto quântico da percepção virá e vai-nos permitir tomar a ação correta. É nisso que a Física Quântica está nos ajudando, é nessa conclusão que ela está nos ajudando. E acho que Sartre também buscava essa resposta porque a ética fixa é uma coisa impossível de se seguir.

Cláudio Abramo: Eu vou, infelizmente, ter que me estender ligeiramente na minha pergunta. Ela é precedida de uma declaração... Vou fazer uma interpretação do que foi declarado até agora, que eu acho que deve ser útil para os telespectadores. Não estou fazendo isso para me expor, mas para esclarecer o que me parece ser algumas questões importantes nesse debate para o telespectador. O entrevistado faz menção a fenômenos inexplicados, a fenômenos desviantes, entre diversas disciplinas. Começa com a Física, passa pela Biologia, faz referência a problemas seculares com respeito à consciência humana, ao livre-arbítrio, ao modo como raciocinamos, ao modo como chegamos a conclusões, menciona casos como, por exemplo, Einstein declarando, como tantos outros cientistas, que não sabe muito bem como chegou a uma conclusão. Poincaré, antes dele, havia escrito muito sobre isso... Poincaré era uma matemático, o último grande matemático universalista francês... ele morreu no começo desse século (XX). Bom, esse tipo de anedota é completamente comum na ciência. Não há nenhuma originalidade nisso. Esse gênero de anedota, repito, fenômenos inexplicados que são característicos da ciência... a ciência quanto mais sabe, menos sabe... quanto mais a ciência sabe, quanto mais fenômenos são explicados, mais avenidas de desconhecimento se abrem. Um cientista diz “não sei” o tempo todo. Um não-cientista explica tudo, porque sempre tem uma resposta do tipo “todo abrangente” como é esta resposta. O fato de se ter isso, para os telespectadores entenderem, o fato de se formular uma pseudo-explicação a respeito de como o universo funciona não dá a essa explicação, foros de verdade. Simplesmente declarar coisas não confere verdade ao que se declara. Agora, no que o senhor declara existe uma característica que eu acho bastante preocupante, ou pelo menos intrigante, vinda de alguém conhecido aqui como Físico, como o senhor declarou... o senhor foi.. o senhor foi Físico. O senhor diz, em primeiro lugar, que aquilo que seria essa intervenção de uma consciência cósmica, não é matematizável, quer dizer, isto não é introdutível dentro da teoria física na forma como a teoria física aceita as suas idéias. Não existe outra maneira de introduzir na Física idéias senão a matemática. Não existe.. não é possível, não é Física... se é não-matematizável, não é Física. Muito bem, então esta idéia de consciência cósmica não é Física, quer dizer, certamente nenhum Físico aceitará isso. Em segundo lugar, ela também, já que se está falando de alguma coisa que existe no mundo, que é uma consciência cósmica que se reflete na consciência das pessoas e faz as pessoas fazerem saltos quânticos... o senhor não vai usar esse termo, mas saltos quânticos em direção à solução de problemas... onde é que estão as evidências empíricas disso? Onde estão as experiências que levam a esse tipo de conclusão? Porque ou a gente pode ter conhecimento do mundo que seja muito estruturado, como no caso da Física, ou conhecimento do mundo pouco estruturado. Não existe uma teoria, não existe um conjunto de idéias muito organizado por trás, mas sabemos empiricamente que são verdadeiras, ou parecem verdadeiras. Onde é que estão as evidências empíricas e onde está o raciocínio, eu diria, desculpe a palavra, científico, que o leva a declarar que existiria uma consciência cósmica que estaria governando tudo e resolvendo todos os problemas aqui, da Biologia, da Psicologia?... O senhor afirma que estas suas idéias explicariam o problema da biologia evolucionista dos ‘gaps’ na criação de espécies, por exemplo. O senhor não acha ambicioso demais e, repito, onde é que estão as evidências empíricas disso?

Amit Goswami: Boa pergunta. Pergunta muito boa. Precisamos sempre fazer esta pergunta: onde está a evidência? Falarei da evidência mais tarde. Antes, responderei à pergunta: a Física é matemática? Ela deve ser totalmente matemática? Essa é uma crença que cresceu gradualmente na Física, por causa do sucesso da matemática para expressar a Física. Há duas coisas que devemos lembrar. Primeiro: não há motivo para a Física ser matemática. Às vezes os filósofos levantam essa questão. Nancy Cartwright escreveu um livro: Why do laws of Physics lie. Ela estava argumentando que não há provas dentro da filosofia materialista de que a Matemática deve governar as leis da Física. De onde vem a Matemática? Pessoas como Richard Feynman, grande físico, Eugene Bigner, todos estudaram a questão. E não há resposta dentro da filosofia materialista. Platão tem uma resposta: a matemática molda a Física porque surgiu antes da Física, faz parte do mundo arquetípico que discutimos. Assim, o idealismo de Platão é fundamental para entender o papel da Matemática na Física, em primeiro lugar. A Física em si precisa de algo além da matéria, ou seja, da matemática e de arquétipos para ser uma ciência consistente. É preciso se lembrar disso. O segundo aspecto da questão é o mais importante. Na Física Quântica, procuramos insistentemente uma forma matemática de encerrar a Mecânica Quântica. Uma forma matemática para entender a medição quântica. Não fomos capazes. Niels Bohr demonstrou para Erwin Schrödinger, há muito tempo, quando a Mecânica Quântica estava sendo desenvolvida. Schrödinger achou que tinha obtido a continuidade e Bohr provou o contrário e o convenceu disso. E Schrödinger disse: “Se eu soubesse que essa descontinuidade, saltos quânticos, iriam permanecer, eu nunca teria descoberto a Mecânica Quântica”. Bohr disse: “Estamos felizes que tenha descoberto”. Essas descontinuidades vão continuar existindo, não há explicação matemática, e por não haver explicação matemática, portanto, há espaço para o livre-arbítrio. O livre-arbítrio, Deus, consciência, colapso, tudo isso entrou para a Física porque atingimos o conhecimento, a sabedoria, de que existe o princípio da incerteza, existem a probabilidade e possibilidades. E por existirem probabilidade e possibilidades, deve haver um agente que causa o colapso das possibilidades em eventos reais. E esse agente não pode ser matemático porque, se for, não poderá haver livre-arbítrio: seria determinista. Mas não é determinista. O princípio da incerteza é fundamental. Assim, nós chegamos à conclusão, após décadas de lutas nós conseguimos...

Cláudio Abramo: Quem é “nós”?

Amit Goswami: “Nós” quer dizer que há um consenso entre cientistas...

Cláudio Abramo: Há um consenso a respeito de suas idéias?

Amit Goswami: Não a respeito de minhas idéias. Esqueça as minhas idéias. Mas há um consenso de que não há solução matemática para o problema da medição quântica. Nisso, chegamos a um consenso. E por não haver uma solução matemática para isso, e por haver uma solução consistente em termos de consciência causando colapso de possibilidades quânticas em realidade, podemos falar sobre essas idéias publicamente. Quanto à segunda pergunta: Há evidência empírica? Acontece que os dois aspectos fundamentais da nova física, a consciência causa o colapso da possibilidade em realidade, e o segundo, que essa consciência é uma consciência cósmica, os dois aspectos foram confirmados por dados empíricos. Antes, darei os dados para o segundo, porque é o mais simples para o espectador. O primeiro é um pouco difícil. Talvez possamos incluir os dois. O primeiro experimento é muito importante porque já foi aplicado. Em 1993 e 1994, o neurofisiologista mexicano Jacobo Greenberg Silberman, ele e seus colaboradores fizeram um experimento, no qual havia dois observadores meditando por 20 minutos, com o propósito de terem comunicação direta. Comunicação direta no estilo de não-localidade. Sinais não-locais ocorrendo entre eles, e ainda assim eles teriam comunicação. Certo, eles meditaram juntos. Pediu-se que mantivessem o estado meditativo durante o resto do experimento. Mas então, um deles é levado para outro recinto. Eles ficam em câmaras de Faraday, onde não é possível a comunicação eletromagnética. Os cérebros deles são monitorados. Uma das pessoas vê uma série de ‘flashes’ brilhantes, o cérebro dele responde com atividade elétrica, obtém-se o potencial de resposta muito claro, picos muito claros, fases muito claras. O cérebro da outra pessoa mostra atividade, a partir da qual obtém-se um potencial de transferência que é muito semelhante em força e 70% idêntico em fases ao potencial de resposta da primeira pessoa. O mais interessante é que, se voce pegar duas outras pessoas, duas pessoas que não meditaram juntas, ou pessoas que não tinham a intenção de se comunicar, para elas, não há potencial de transferência. Mas para pessoas que meditam juntas, invariavelmente, muitas vezes, um em cada quatro casos, obtemos o fenômeno de potencial de transferência. E Peter Fenwick, na Inglaterra, há dois anos, confirmou isso, repetindo o experimento. Assim, temos evidência empírica. Se tivéssemos tempo, e voce tivesse paciência, eu poderia lhe dar inúmeros dados. Outro dado que é muito interessante: considere o caso de geradores de números aleatórios. Eles são realmente aparelhos quânticos, pois eles pegam eventos radiativos, que são aleatórios, e os convertem em seqüências de números, seqüências de zeros e uns. Em uma longa cadeia, deve haver número igual de zeros e uns. É o que se espera da sequência aleatória. Helmut Schmidt, um físico que pesquisa parapsicologia, tenta há quase 20 anos, fazer com que médiuns influenciem os geradores de números aleatórios para gerarem sequências não-aleatórias, mais zeros que uns. E ao longo dos anos ele conseguiu boas evidências de que, até certo ponto, os médiuns conseguem fazer isso. Um resultado com um grande desvio. Isso ainda não tem nada a ver com Física Quântica, mas recentemente, em um trabalho publicado em 1993, Schmidt retratou uma modificação revolucionária desses dados. O que ele fez, recentemente, é que o gerador de números aleatórios, os dados do gerador de números, a sequência, é armazenada num computador, ela é impressa, mas ninguém olha. Os dados impressos são fechados num envelope e enviados para um observador independente. Três meses depois, o observador, sem abrir o envelope, escolhe o que quer ver, mais zeros ou mais uns. Tudo segue um critério. Então ele liga para o pesquisador, o pesquisador diz ao médium para olhar os dados, e pede a ele para mudar os resultados, influenciá-los, se puder. E o médium tenta produzir mais zeros, se esse for o desejo do observador. E então, o observador abre o envelope e verifica se o médium conseguiu. E a incrível conclusão é (é um resultado sério, não é fácil contestá-lo) que o médium, em 4 de cada 5 tentativas, consegue mudar os números aleatórios gerados pelo aparelho, mesmo após três meses. Este mito de que o pensamento causa o colapso de si mesmo, que o colapso é objetivo, sem que o observador consciente as veja, é apenas um mito. Nada acontece, tudo é uma possibilidade até que o observador consciente veja. Numa experiência controlada, as pessoas intervieram. As pessoas viram, sem contar a ninguém, viram os dados, a impressão. Nesses casos, o médium não influenciou os dados. Está claro que a consciência exerce um efeito, exatamente como Bohr suspeitava, como Newman suspeitava. Agora estamos fazendo teorias mais completas e experimentos mais completos baseados nessas teorias. Henry Stab colaborou com todas essas idéias que apresentei, consciência causando o colapso de funções quânticas em eventos reais. Ele participou do experimento com Schmidt. Então, estamos vendo uma mudança revolucionária na Física, não menos revolucionária do que a acontecida com Copérnico. Claro que haverá reações, como a que apresentou, e temos de ser muito pacientes, calmos, e trabalharmos juntos para superar essas tendências contrárias. Mas temos a certeza de que existe algo que todos devemos olhar. Isso é revolucionário, é novo e pode mudar, como já discutimos, as dificuldades com valores que a sociedade vem enfrentando. Não vamos nos preocupar em como pode ser, mas vamos olhar os dados, olhar a teoria e perguntar: pode ser? Se pode, que oportunidade fantástica temos para integrar todos esses movimentos díspares de consciência que nos separaram por tanto tempo.

Heródoto Barbeiro: Ele é autor também do livro “O universo autoconsciente -Como a consciência cria o mundo material”. Dr. Goswami, dentro dessas explicações que o senhor nos deu até agora, como fica a questão da reencarnação e da preservação dessa consciência dos seres humanos?

Amit Goswami: A questão da reencarnação, provavelmente, é a pergunta mais radical que pode ser feita. E é impressionante que a Física Quântica nos permita dar uma resposta afirmativa. Eu mesmo fiquei tão surpreso quanto qualquer um, com isto.. No início, quando me perguntavam isso, eu me recusava a discutir. Mas então, eu acordei de um sonho, e, basicamente, o sonho me dizia... eu ouvi isso no sonho: “O Livro Tibetano dos Mortos está certo e seu trabalho é provar”. Após acordar desse sonho, eu passei a encarar reencarnação com seriedade. Basicamente, o problema com a reencarnação é este: o corpo físico morre, e o que resta? Se a consciência é a base do ser, vem a idéia de que o que resta é a consciência. É a primeira pista. A segunda pista é que tudo é possibilidade, no modo quântico de ver as coisas. Então, não é irrelevante dizer que as possibilidades podem viver. Algumas possibilidades morrem com o corpo material e o cérebro, mas pode haver outras possibilidades, outras possibilidades que se modificam ao longo da nossa vida, e essas modificações das probabilidades das possibilidades podem formar uma confluência que possa viver mais tarde na vida de outra pessoa. É essa idéia que pude desenvolver de forma mais completa, num livro que será lançado no ano que vem, e fico feliz em dizer que podemos lidar com essa questão. A vantagem de se fazerem essas perguntas é que podemos ver imediatamente a utilidade das novas ciências que virão. Porque são essas coisas que preocupam as pessoas. As pessoas são fundamentalmente incomodadas por perguntas como “o que acontecerá quando eu morrer?”. E se a nova Física puder responder essas perguntas, a despeito da importância da Psicologia transpessoal, e da Psicologia junguiana, em que a nova ciência ajuda, e também da medicina alternativa, que nem discutimos ainda, acho que tocaremos o coração das pessoas quando pudermos dizer: “Finalmente, a Ciência pode ajudar a entender essa pergunta”. Até agora, apenas o padre, o teólogo pode dar qualquer resposta para a pessoa. E se pudermos dizer a ela: “Faz sentido fazer essa pergunta, e voce pode fazer algo para ajudar voce com o que acontecerá após a morte”. Não seria um progresso maravilhoso na ciência?

Joel Giglio: Professor Amit, eu vou fazer uma pergunta baseado no trabalho de um ex-orientando de tese de doutoramento que eu orientei na Universidade de Campinas, e que fez a primeira tese, pelo menos na Unicamp, e talvez em qualquer universidade estadual ou federal do Brasil, sobre parapsicologia. Ele fez uma tese sobre clarividência e eu não vou, naturalmente, falar da metodologia do trabalho que seria bastante extensa, mas resumir pelo menos os resultados principais. Várias pessoas, vários sujeitos tentavam adivinhar as cartas de um baralho de símbolos geométricos, baralho de Zener muito usado em pesquisa e parapsicologia, e tentava adivinhar as cartas de um baralho Tarô, que é baseado em imagens arquetípicas, o Rei, a Rainha, etc. Nos resultados que foram feitos seguindo uma metodologia tradicional, estatística, as pessoas acertaram, no baralho de Zener, um pouquinho acima do que era esperado ao acaso e 10% acima no baralho de Tarô, comparando com o de Zener. A explicação dada pelo meu orientando foi dentro da teoria da Psicologia Analítica, em relação aos arquétipos emergentes que, de uma certa forma, estariam mobilizados mais no baralho de Tarô do que simplesmente no baralho de símbolos geométricos. Mas essa explicação, embora nos satisfaça um pouco, ainda deixa muito a desejar. Eu perguntaria se o senhor teria alguma explicação a mais baseada na Teoria Quântica sobre essa maior adivinhação das cartas do baralho do Tarô, que são símbolos arquetípicos em relação ao baralho comum de Zener , que são cinco símbolos geométricos, quadrado, cículo, etc.?

Amit Goswami: Sim. Obrigado pela pergunta. Na verdade, somente no Brasil alguém pensaria em fazer um experimento tão brilhante. Tenho visitado o Brasil nos últimos 5 anos e o futuro parece promissor. Eu fico entusiasmado com a mente do brasileiro. Qual é a diferença entre o experimento original de adivinhação de cartas e as cartas de Tarô? A idéia que proponho, acho que voce pensa da mesma forma, é que quando o objeto que usamos na telepatia é significativo, ele é um objeto melhor. Os cientistas, os parapsicólogos anteriores preocupavam-se demais com a objetividade e ignoravam esse aspecto. Agora, nos novos experimentos parapsicológicos, espero usarmos cada vez mais objetos significativos na transferência telepática. E voce tem razão, a explicação completa tem de usar a palavra “telepatia”, tem de usar a transferência não-local de informações, neste caso, transferência não-local de informações significativas, arquetípicas. E esse é o motivo para os melhores resultados. Mas a não-localidade, a não-localidade quântica, tem de ser evocada para se ter uma explicação completa do que ocorreu. Obrigado.

Mario Cortella: Doutor Amit, eu juntei algumas questões nisso que eu não vou tratar delas como perguntas, porque eu acho que na sua obra, pelo menos no que eu pude ler, há um aprofundamento disso e uma leitura mais detalhada ofereceria mais questões. Por exemplo, no campo da psicanálise essa idéia de que o universo é quando é percebido e até interferido, será que não seria uma postura um pouco ego-narcísica da nossa parte, um pouco antropocêntrica em relação ao próprio universo que dificulta a idéia de um cosmo, invertendo Dostoievsky. Dostoievsky disse que se Deus não existe, tudo é permitido. Nessa compreensão, parece que se Deus existe, aí é que tudo é permitido, porque existe aí uma probabilidade que pode ser interferida. E uma outra questão, que eu acho que está na sua obra mas acho que vale aprofundamento, é o ateísmo metodológico, sendo que foi tão caro para a ciência para poder buscar explicações, mas ele não é mais necessário. Mais aí a questão de fundo: eu tenho lido, não sei se é verdade, que a Física Quântica mostra que hoje o tempo é uma ilusão. Alguns têm dito que não se fala mais em universo, mas em multiverso, porque haveria vários universos paralelos. Isso traria um problema: a possibilidade de viajar no tempo. A maior explicação que achei até hoje contra a viagem no tempo, foi do Físico inglês, Stephen Hawking, que usou um argumento lógico. Ele disse: “É impossível viajar no tempo porque se um dia for possível isso, os homens do futuro já teriam voltado”. Mas a Física Quântica ao falar em universos paralelos levanta a possibilidade de se ter o tempo como uma mera ilusão humana. Isso me coloca a seguinte pergunta aí para o senhor: será que nós chegaremos, com a Física Quântica, a voltar à origem do cosmos e, aí sim, encontrar o princípio explicativo?

Amit Goswami: Bem, suas duas colocações são muito boas, e a pergunta é extremamente fascinante. A primeira coisa que quero dizer é que ‘não dizemos que tudo é possível’ apenas por termos incluído aí a consciência em nossas teorias, porque ainda estamos concordando totalmente com a Física Quântica que a causalidade ascendente molda a forma das possibilidades, a partir da qual a consciência escolhe. Tanto a causalidade descendente, quanto a ascendente têm papel fundamental na nova Física, na nova Ciência. Essa é uma das virtudes que temos. A nova Ciência absorve a velha Ciência nos limites do princípio da correspondência, no limite de que poderíamos falar apenas em termos de probabilidades para um grande número de coisas e eventos. A velha Ciência não desaparece. Não poderia. É solidamente baseada em dados experimentais. A nova Ciência expande a velha Ciência em arenas com as quais a velha Ciência não pode lidar. Como eventos singulares de criação, criatividade. Esse é o primeiro ponto. Sobre voltar no tempo, há experimentos quânticos. O mais famoso é o experimento de Le Choice, mas é muito longo para explicar, e muito complicado para os espectadores realmente apreciarem. Embora, se alguém estiver interessado nele, há livros sobre ele. Leiam, por favor, é fascinante. Há algo acontecendo. Essa idéia de voltar no tempo é real na Física Quântica. Podemos ser afetados por coisas no futuro, assim como somos afetados por coisas no passado. Na Física Quântica, o tempo é não-linear. Isto posto, claro que experimentos recentes são tão impressionantes, tão surpreendentes, que muitos físicos convencionais, conservadores, procuram formas de viajar no tempo. Mas acho que o consenso é que a viagem no tempo envolve muito mais do que esta observação da Mecânica Quântica. Não podemos mais descartá-la, mas ela envolve muito mais pois ainda temos sérios problemas de como trazer os efeitos quânticos aos macrocorpos. Pois os efeitos quânticos são muito destacados apenas em objetos microscópicos, e não tão destacados em macro-objetos. A situação da medição é uma exceção. Mas normalmente descobrimos apenas raios ‘laser’, supercondutores, poucas coisas, poucos macro-objetos em que os efeitos quânticos persistem. Então temos de resolver esse problema de como macrocorpos podem ser transportados pelo tempo, e isso levará um tempo. Se a consciência voltar a essa equação, e ela precisa voltar, em algum ponto, então, outra dimensão de pensamento se abrirá e isso pode nos dar novas respostas, novas visões sobre isso. Mas é muito prematuro falar sobre isso, acho.

Rose Marie: Eu sou muito interessada em história da tecnologia, porque eu acho que através da tecnologia é que os sistemas econômicos se desenvolvem, que cresce uma dominação de potências hegemônicas. Isso vai muito na linha da pergunta do Cláudio Abramo. Eu sei que o senhor está trabalhando na construção do primeiro computador quântico. Eu quero perguntar uma coisa: o computador quântico dá saltos quânticos, ele cria? Qual a diferença dele do computador determinístico?

Amit Goswami: Essa é uma pergunta muito interessante. O que é um computador quântico? Um computador quântico em vez de usar um algoritmo específico, usa um algoritmo ambíguo. No computador quântico é usada a superposição de possibilidades e, dessa forma, espera-se que seja muito mais rápido que o computador convencional. Desde que o computador quântico opere apenas nesse nível, eu não espero que ele seja uma novidade tão grande, a não ser o fato de ele ser mais rápido. É isso que interessa aos cientistas da computação. Mas eu tenho um interesse diferente nesse computador. Se o computador for construído, por ter um processador quântico, por processar superpondo possibilidades...

Rose Marie: É tão realista.

Amit Goswami: Isso mesmo. Assim como o ser humano faz. O cérebro humano, de forma semelhante, processa de forma quântica as possibilidades, em vez de trabalhar diretamente, de maneira algoritmica, sem ambiguidade. Então, alguém pode fazer um computador que tenha todos os outros aspectos da medição quântica? A situação da medição quântica envolve um mecanismo que chamo de hierarquia embaraçada. É um pouco difícil de entender, mas um exemplo é a frase: “Eu sou mentiroso”. Se pensar nela, verá que a relação hierárquica entre sujeito e predicado é recíproca. “Eu” qualifica mentiroso, e vice-versa. Um qualifica o outro. É o que chamo de hierarquia embaraçada. A medição quântica no cérebro é assim. A questão intrigante para mim é que: suponha que no futuro encontremos um computador com hierarquia embaraçada. O interessante é que a hierarquia embaraçada dá margem à auto-referência. Então, este computador quântico terá auto-referência? A consciência cooperará na criação de um aparelho feito por humanos, que não seguiu uma evolução, mas desenvolvido pela inteligência humana? A consciência cooperará? A consciência cósmica cooperará e o tornará um ser consciente? Eu não sei a resposta. Mas esta será uma verificação fundamental, uma das mais fantásticas, das idéias que discutimos hoje. Acho que essa pesquisa deve ser encorajada. Obrigado pela pergunta.

Lia Diskin: Tentando fazer uma síntese dentro das idéias da biologia, dentro das idéias da psicologia e, logicamente, de toda a Física que o senhor coloca, o que hoje sabemos é que apenas 2% de nosso cérebro utiliza vias neuro-cerebrais para entrada e saída de informação. E é a partir disso, que nós construímos o que chamamos “os objetos ideais e universais” que constituem a ciência. 98% restante pertence a um universo interno, nebuloso, no qual existe a fantasia, a ilusão, logicamente a irracionalidade e também a probabilidade. Até que ponto podemos dizer que é possível um verdadeiro diálogo com essa disparidade de porcentagens? Até que ponto podemos dizer que é possível uma cientificação das idéias, de Deus, ou das idéias internas, humanas, divinizadas, como queira chamá-las?

Amit Goswami: Em outras palavras, deixe-me ver se entendi a pergunta, há muitas coisas que são fantasias e há muitas coisas que envolvem Deus. É possível transformar esses aspectos fantasiosos em científicos? É uma pergunta interessante. Claro, na criatividade, transformamos fantasias, transformamos algumas fantasias em algo científico. Porque algumas delas são fantasias criativas. Em outras palavras, a imaginação, a parte mental de nossas vidas, a parte interna de nossa vida, é fundamental no que fazemos no mundo externo. Na nova Ciência, por estarmos igualmente envolvidos com o mundo externo e o interno, pelo fato de a subjetividade ter voltado à ciência, estamos validando o conceito de que, talvez, devamos levar algumas de nossas fantasias a sério. Porque a idéia contrária também pode ser positiva, ou seja, de que tudo é uma fantasia. Fantasia da mente, fantasia da consciência. Porque a consciência é a base do ser, e o que pensávamos ser material e real, e o que pensávamos ser fantasia e irreal, esta distinção não é muito clara, agora. São todas possibilidades da consciência. Portanto, é a consciência que as valida, que escolhe entre elas, que lhes dá substancialidade. Então, qual delas será substancial depende totalmente da escolha, do contexto no qual a consciência as vê. Isso vai revolucionar a sociedade, como voce antecipou com sua pergunta. Em outras palavras, vamos levar nosso mundo interno muito mais a sério. Eu costumo dizer às pessoas que, se elas estudarem seus sonhos, o preconceito que costumamos ter é de que o sonho não é contínuo, portanto, de que adianta estudá-los? Há evidências de que os sonhos são contínuos, mas é preciso olhá-los sob o ponto de vista significativo. Alguns ficariam felizes com essa descoberta científica, de que os sonhos dão um relatório sobre a parte significativa das nossas vidas. Então, há outros aspectos da vida com os quais a ciência materialista não pode lidar e com os quais podemos lidar agora por colocar a consciência de volta, por exemplo, o pensamento. E, quando fazemos isso, nossa vida interna adquire uma enorme importância. Sim, a vida interna lida com o pensamento, a beleza, os arquétipos, de uma forma diferente que a vida externa, materialista, pode. E, focalizando na vida interna, não só podemos nos transformar, essa é a parte mística, mas também podemos ter enormes visões sobre o que criar, como criar, sobre nossas artes, sobre nossa música, até sobre a ciência.

Pierre Weil: Eu queria primeiro felicitar esse programa, Roda Viva, pelas iniciativas que está tomando. Eu quero dizer que é a primeira vez que eu vejo na televisão, problemas tratados no nível que merecem, na altitude que merecem, problemas como a parapsicologia, a psicologia transpessoal. Isso é feito graças a uma mudança de paradigma. E eu queria realçar de novo para o público telespectador que o que estamos tratando aqui tem uma influência muito grande sobre a destruição da vida no planeta e a grande crise de violência que está assolando atualmente o mundo, não é só o Brasil. Eu queria, já que estamos no fim do programa, deixar a oportunidade a Amit Goswami, que nós convidamos na nossa Universidade da Paz em Brasília, justamente porque ele representa um novo paradigma, como que o antigo paradigma é responsável pela violência atual do mundo, antiga visão que está responsável pela destruição da vida no planeta, e como o novo paradigma pode nos ajudar a nos tirar dessa crise, além de medidas policiais e de mudança de lei que são necessárias, mas são absolutamente insuficientes?

Amit Goswami: Obrigado. Acho muito importante dizer que, sem reconhecer a consciência e sem reconhecer o valor da nossa vida interna, sem reconhecer o valor da transformação, nunca mudaremos a violência na sociedade. Então, é muito importante ver que apenas pensando em não-violência, apenas falando dela, não deixaremos a violência. É preciso passar por todo o processo criativo. A nova Ciência, o novo paradigma, é extremamente importante porque sempre enfatiza a criatividade. Na velha Ciência, o determinismo e behaviorismo, essa idéia de que o condicionamento prevalece, nos cegou tanto quanto à transformação, nos cegou tanto que desistimos. Basicamente, os valores não eram necessários. Steve Weinberg disse que não há significado no universo, não há valores se o consenso é o julgamento dos cientistas materialistas, e isso ocorre dentro da sociedade, e o behaviorismo diz: “Não podemos fazer nada. Somos seres comportamentais, somos condicionados”. E a nova Ciência diz: “Não. Também há forças criativas dentro de nós. Basta aprender a agir a partir desse estado de consciência não-ordinário no qual voce tem escolhas”. E o meu novo lema, em vez do cartesiano “eu penso, logo existo”, e pensamento é uma condição behaviorista, meu novo lema é: “escolho, logo existo”. Se é “escolho, logo existo”, posso escolher a não-violência. Mas tenho de aprender como escolher, e isso exige criatividade. Essa é, realmente... a nova confiança do novo paradigma: em vez de escolher a metade condicionada do mundo, vamos dividir o mundo em condicionamento e criatividade. Forças do Bem e do Mal, das quais falamos antes. Podemos ser muito otimistas. Se essa mudança para o novo paradigma vier logo, talvez possamos realmente lidar com a violência de uma forma realmente prática, em vez de apenas verbalmente, como fazemos.

Carlos Ziller: Quando eu estava fazendo a minha leitura dos seus trabalhos, percebi um sentimento que eu compartilho, de um incômodo profundo com relação a algumas conclusões que emergem de determinados meios científicos. Vou dar só um exemplo, acho que o telespectador vai se lembrar, certamente. Há algum tempo atrás apareceu um resultado de um laboratório do EUA que falava da descoberta do gene da homossexualidade. Mais recentemente falou-se no gene da obesidade, e há toda uma série de conclusões desse tipo que não deixam de produzir, nos homens de bom senso, uma certa surpresa, e, contudo, mesmo em homens que são materialistas e bem convencidos, que não aceitam, rejeitam esse determinismo radical que emerge de alguns ambientes científicos, sobretudo norte-americanos. Há um materialismo que convive muito bem com o livre-arbítrio. Há um realismo filosófico que convive muito bem, sem muito inconveniente, com paradoxos, com contradições. Isso não é, digamos, o todo, do que se poderia chamar de “atividade científica”. Por fim, eu gostaria de fazer uma pergunta, e é a questão mais importante que eu teria a colocar, que emerge também de uma sensação que eu tive ao ler “O universo auto-consciente”. Eu tive a sensação de retornar ao passado, aí sim uma viagem ao passado. Eu vi ali, arrumados, organizados de uma forma muito particular por voce, idéias e proposições que eu já havia conhecido em leituras, por exemplo, da obra do cardeal Nicolau de Cusa , grande pensador do século XV, que propôs que o universo era resultado de uma contração de Deus, e essa contração, enfim, não é o caso aqui de eu explanar essa filosofia. Mas esse tipo de pensamento, produziu, interagiu com concepções científicas do século XVI, do século XVII, com concepções que propunham que a divindade organizasse, ou enfim, propunha uma visão bastante parecida com essa, um projeto científico bastante parecido com esse que voce está propondo nesse seu livro. A humanidade passou por um processo muito longo, muito duro, para conseguir, digamos, não eliminar Deus da Ciência, mas pelo menos reduzir um pouco seu papel, esse processo foi longo e lento. Para concluir, como o senhor acredita poder convencer os cientistas desse seu projeto, depois de tanto esforço para conseguir criar uma noção de objetividade, de realidade, de realismo, com todos os exageros em alguns momentos, mas convencer esses homens depois de tanto esforço? O senhor imagina conseguir isso usando que gênero de recursos?

Amit Goswami: Eu acredito que as idéias se verificarão por si mesmas, serão confirmadas nos laboratórios e serão úteis. A ciência tem dois critérios fundamentais. Por isso Galileu é chamado de pai da ciência moderna, pois ele enunciou claramente esses dois critérios. Um é que a ciência deve ser verificável. Ela deve ser verificada experimentalmente. E a segunda idéia é que a ciência deve ser útil. No aspecto da verificação, já apresentei alguns experimentos a voces, pois o tempo é curto, não entrarei em outros experimentos, mas digo que há um número enorme de experimentos sendo realizados, graças à Parapsicologia e interessados em Parapsicologia. Mas também em Biologia, e a Medicina é uma grande área de verificação experimental de algumas de nossas idéias. Mas a questão da utilidade é a mais importante. Deepak Chopra ficou famoso por um livro que escreveu, chamado Cura Quântica, lançado há 10 anos. Ele começou a revolucionar a Medicina, de certa forma, pois há um fenômeno chamado “efeito placebo” para o qual os cientistas não têm explicação. E esse trabalho, que é muito semelhante à minha forma de pensar, e eu tenho lido trabalhos citando a conexão entre as nossas idéias... Mas veja as implicações disso. Se, de fato, houver cura quântica, se houver Medicina mental, o efeito da mente sobre a cura, então as pessoas serão de fato ajudadas, não apenas no campo da Psicologia, mas no campo da verdadeira saúde física. A saúde física real, que importa para muito mais pessoas do que a saúde mental, ainda não estamos esclarecidos o bastante para levar a saúde mental tão a sério. Mas todos se preocupam com a saúde física, levam muito a sério. É a aplicação da nova Ciência a essas áreas, especialmente na área da saúde, que vai trazer a revolução de que Deus é importante, a consciência é importante, a criatividade é importante, observar o livre-arbítrio e responsabilidade é importante, que temos um paradigma científico que pode unir todas essas coisas, trazê-las para junto da velha ciência e ter formas objetivas de proceder e prever. Será uma ciência previsível, poderá ser verificada e também será útil. Isso é o que mudará a percepção do público. A percepção dos cientistas, também. Obrigado.

Heródoto Barbeiro: Doutor Goswami, muito obrigado por vir.

Amit Goswami: Muito obrigado. Foi um prazer estar aqui.



Vídeo com a segunda entrevista de Goswami ao programa Roda Viva, feita em 2008

Transcrição da entrevista de 2008 (pdf)



Fonte: Saindo da Matrix por sinal um excelente site que recomendo a todos.